Por Stephen Kalin
RIAD (Reuters) - As mulheres da Arábia Saudita acordaram com a notícia de um decreto real que permitirá que elas conduzam automóveis a partir do ano que vem – e algumas já estavam atrás do volante nesta quarta-feira, embora as carteiras de habilitação ainda demorem nove meses para serem emitidas.
"A Arábia Saudita jamais será a mesma. A chuva começa com uma única gota", disse Manal al-Sharif, que foi presa em 2011 depois de um protesto, em um comunicado publicado na internet.
Vídeos online mostraram um punhado de mulheres dirigindo de terça para quarta-feira, já que o decreto do rei Salman foi anunciado na noite de terça-feira.
"Queria poder traduzir meus sentimentos neste momento. Sinto que ninguém além de nós pode entendê-lo plenamente", disse Abeer Alarjani, de 32 anos, que planeja começar a fazer aulas de direção neste final de semana.
"Agora finalmente ousarei sonhar com ainda mais."
A medida representa um grande rompimento com as leis e ditames morais aos quais as mulheres estão sujeitas no reino muçulmano conservador. O sistema de guarda masculina exige que as mulheres tenham a aprovação de um parente homem para tomar decisões relativas a educação, emprego, casamento, planos de viagem e até tratamento médico.
A Arábia Saudita, o berço do Islã, vem sendo muito criticada por ser o único país que ainda impede suas cidadãs de dirigir.
O decreto do rei Salman encerra uma tradição conservadora vista por ativistas de direitos humanos como um emblema da repressão às mulheres.
Acredita-se que ele favorecerá o príncipe da coroa Mohammed bin Salman, de 32 anos, que chegou ao ápice do poder no reino em três curtos anos com um programa de reformas domésticas ambicioso e uma política externa assertiva.
Uma reação contida do poderoso clero saudita, que apoiou a proibição durante muito tempo, deu a entender que a divisão de poder entre a dinastia Al Saud e o establishment religioso wahabita pode estar se inclinando de forma decisiva a favor da realeza.
Muitos sauditas mais jovens veem a ascensão do príncipe Mohammed como um indício de que sua geração está ocupando uma posição central no comando de um país cujas tradições patriarcais fizeram do poder o habitat dos mais velhos e que impediram o progresso das mulheres.