Londres, 24 nov (EFE).- O Banco da Inglaterra (autoridade
monetária) revelou hoje que, no segundo semestre de 2008, emprestou
secretamente 61,6 bilhões de libras (US$ 102 bilhões) ao Royal Bank
of Scotland (RBS) e ao HBOS para evitar que "a perda de confiança se
estendesse a todo o sistema financeiro".
Assim afirmou o presidente do Banco da Inglaterra, Mervyn King,
em uma comissão parlamentar, diante da qual deu novos detalhes sobre
a intervenção estatal de um ano atrás para evitar o colapso dos
bancos, após a crise gerada pelas hipotecas de alto risco.
King disse que o dinheiro entregue entre outubro e novembro foi
devolvido integralmente em janeiro deste ano e que o banco agiu em
sua condição de responsável por empréstimos em última instância.
Estes empréstimos conhecidos agora se juntam ao plano de resgate
de 37 bilhões de libras (US$ 61,28 bilhões) aprovado pelo Governo em
outubro do ano passado para ajudar vários grandes bancos do país.
Os responsáveis pela política monetária britânica argumentaram
que divulgar estes empréstimos teria causado maior instabilidade no
sistema, no apogeu da crise.
O Banco da Inglaterra analisou minuciosamente se informar sobre
os empréstimos era uma questão de interesse público e decidiu que só
seriam revelados à opinião pública "depois que o banco considerasse
que a necessidade de mantê-lo em segredo tinha terminado".
O presidente da Comissão do Tesouro da Câmara dos Comuns, John
McFall, disse que, após saber a quantia emprestada a estas duas
entidades financeiras há um ano, parou para pensar "em quantas
universidades, quantas faculdades e quantos postos de trabalho
poderiam ter sido apoiadas com isso".
Desde que receberam estas quantias multimilionárias, o Royal Bank
of Scotland se juntou ao plano de proteção de ativos do Governo para
terminar de sanear suas contas, e o Lloyds Banking Group, que
comprou o HBOS, anunciou planos de ampliação de capital através de
seus acionistas.
É previsível que os acionistas do Lloyds Banking Group expressem
seu mal-estar com esta medida, já que, enquanto estes empréstimos
eram travados em segredo, a direção do banco lhes pedia o sacrifício
de passar a controlar o endividado HBOS.
Um porta-voz do primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown,
disse que a concessão destes empréstimos "lembra de uma maneira
contundente" o quão perto se esteve nos últimos meses de 2008 de que
todo o sistema bancário desabasse.
King também falou, em seu comparecimento no Parlamento, do risco
que o mau estado das contas econômicas e financeiras pudesse custar
ao Reino Unido uma redução na classificação de risco creditício
pelas agências de qualificação. EFE