Washington, 19 out (EFE).- O presidente do Federal Reserve (Fed,
banco central americano), Ben Bernanke, disse hoje que, pelo bem da
economia mundial, os Estados Unidos têm que reduzir seu déficit
gradualmente, enquanto a Ásia deve consumir mais.
Bernanke afirmou que é necessária uma baixa "substancial" dos
números vermelhos públicos "com o tempo", em discurso feito hoje em
uma conferência do Fed de San Francisco, que foi distribuído em
Washington.
Os Estados Unidos acumularam um déficit fiscal de US$ 1,42
trilhão no ano fiscal de 2009, que terminou em setembro, o maior
desde a Segunda Guerra Mundial, informou o Governo americano na
sexta-feira.
Este é um número inferior ao esperado, porque o Departamento do
Tesouro gastou menos do que o previsto em ajudas aos bancos, mas,
mesmo assim, o resultado quase triplica a brecha de US$ 459 bilhões
do ano anterior.
Em seu discurso em Santa Barbara (Califórnia), Bernanke alertou
que os desequilíbrios mundiais que contribuíram para a crise
poderiam "reaparecer", após chegar a recuperação.
Para evitá-los, o presidente do banco central disse que os
Estados Unidos devem aumentar sua taxa de poupança, estabelecendo
"uma trajetória fiscal sustentável", enquanto as economias asiáticas
fomentam o consumo interno.
Na China, por exemplo, as famílias guardam 30% de sua receita,
por isso existe muito espaço para incentivar a demanda.
Bernanke disse que uma forma de convencê-los a gastar mais seria
fortalecer o sistema de pensões e aumentar os gastos públicos em
saúde e educação, pois os cidadãos economizam muito atualmente para
fazer frente a essas necessidades.
As recomendações do presidente do Fed coincidem com a análise
realizada na cúpula do G20 em Pittsburgh, em setembro, e na
Assembleia Anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Istambul,
há duas semanas.
Os desequilíbrios mundiais, que se manifestam pela disparidade
nas balanças de pagamentos, diminuíram no último ano em consequência
da crise, reconheceu Bernanke.
O déficit externo dos Estados Unidos caiu de 5% do Produto
Interno Bruto (PIB) em 2008 para 3% no segundo trimestre deste ano.
Ao mesmo tempo, o superávit chinês por conta corrente caiu de 10%
do PIB na primeira metade de 2008 para 6,5% entre janeiro e junho
deste ano, em parte devido à queda da demanda nos Estados Unidos.
No entanto, Washington se preocupa com que a correção seja só
temporária, e teme que a China volte a apostar nas exportações para
alimentar seu crescimento, mediante uma taxa de câmbio que os
Estados Unidos consideram subvalorizada.
"Para conseguir um crescimento mais equilibrado e durável, e para
reduzir os riscos de instabilidade financeira, devemos evitar
desequilíbrios crescentes e insustentáveis nos fluxos de comércio e
de capital", enfatizou Bernanke. EFE