Buenos Aires, 19 nov (EFE).- Brasil e Argentina decidiram expedir
em no máximo 60 dias licenças não automáticas que os dois países
aplicam a alguns produtos e que tinham sido eixo de divergências,
confirmaram hoje fontes oficiais.
O acordo foi um dos alcançados nesta quarta-feira em Brasília
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua colega da Argentina,
Cristina Fernández de Kirchner.
"Talvez não seja um sucesso total, mas é um acordo muito
importante, com compromissos muito grandes", destacou hoje em
conversa com jornalistas o secretário de Relações Econômicas
Internacionais da Argentina, Alfredo Chiaradía.
Segundo o estipulado, a partir de 2010, os dois países expedirão
licenças não automáticas em até 60 dias e será estabelecido um
regime mais ágil para produtos perecíveis e sazonais.
Além disso, haverá um mecanismo por meio do qual se avisará com
"suficiente antecedência" o estabelecimento de uma licença não
automática para determinado produto e, assim, evitar a interrupção
dos fluxos comerciais.
A Argentina aplica estas licenças desde o final de 2008. O Brasil
implantou medidas similares no mês passado, o que gerou problemas
para o embarque de produtos perecíveis argentinos retidos na
fronteira.
Os dois países também acordaram eliminar totalmente o requisito
de visto consular para alguns embarques.
Chiaradía destacou o fato de que continuam na agenda os acordos
entre particulares de setores sensíveis para regular o comércio
bilateral.
Segundo o secretário argentino, o Brasil "quer que não haja estes
acordos" por uma questão de "princípios" sobre o livre comércio.
A Argentina, por outro lado, defende a continuidade destes
acordos, mas aperfeiçoados pelos Governos, enquanto o Brasil não
ratifica o Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC) assinado pelos
dois países em 2006.
"Estes acordos voluntários substituem essa falta de aprovação por
parte do Brasil de um instrumento negociado bilateralmente que o
Brasil não cumpriu", disse Chiaradía.
Segundo o secretário, o Executivo brasileiro sequer enviou o
acordo sobre o MAC ao Congresso.
Chiaradía disse que a Argentina pretende "ordenar o jogo" dos
acordos entre particulares, "aperfeiçoá-los com um pouco mais de
intervenção dos Governos", porque "quando os particulares estão
sozinhos, cada um faz o que quer".
O secretário afirmou que "há manobras empresariais entre
concorrentes", com operadores que se apropriam das cotas estipuladas
e depois não executam os despachos e impedem que seu concorrente
tenha acesso à quota.
"Quando alguns senhores de São Paulo dizem algumas coisas, a
única coisa que estão fazendo é cuidando de seu bolso. Não lhes
importa o cumprimento de normas e falam abertamente e de maneira
descarada de descumprimentos dos demais, o que é inaceitável",
afirmou Chiaradía.
Nesta quarta-feira, o presidente da Federação de Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmou que existem
"distorções graves e injustas" no comércio bilateral que afetam 10%
dos produtos, mas que causam dificuldades "a muitos setores da
indústria". EFE