Arantxa Iñiguez.
Davos (Suíça), 26 jan (EFE).- O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, pediu aos líderes políticos dos países da zona do euro que atuem de forma decisiva para superar a crise da dívida soberana, qualificou de fracasso a Rodada de Doha e propôs acordos bilaterais entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos.
Em seu discurso no Fórum Econômico Mundial de Davos, Cameron opinou hoje que o Banco Central Europeu (BCE) adotou várias medidas extraordinárias para enfrentar a crise de endividamento, mas poderia fazer mais para solucionar a crise.
Cameron disse que é necessário adotar urgentemente medidas de curto prazo para restaurar a perda de confiança e o investimento na eurozona, que se traduziu no aumento dos custos de financiamento de Espanha, Itália e Portugal no último ano.
Até agora o BCE diminuiu as taxas de juros até 1%, injetou grandes quantidades de liquidez nos bancos, inclusive a três anos, mas foi mais comedido que os EUA e o Reino Unido com a compra de dívida pública dos países que atravessam dificuldades de financiamento, devido à oposição do Bundesbank (banco central alemão).
As prioridades para a zona do euro são a recuperação da Grécia, a capitalização do setor bancário e um acordo sobre o novo fundo de resgate, segundo o primeiro-ministro do Reino Unido.
Por sua parte, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, descartou na cidade suíça de Davos que existam negociações entre Europa e China sobre a compra de dívida soberana europeia.
Em um debate sobre o capital e os recursos financeiros da China, Lamy disse que esta ideia é mais uma especulação da imprensa.
"A necessidade de atuação forte em nível europeu é muito grande. A falta de competitividade europeia é seu calcanhar de Aquiles", alertou Cameron.
Acrescentou que "o Tratado de Lisboa falhou em proporcionar as reformas estruturais" e insistiu que o Reino Unido quer ser parte da União Europeia.
Mais da metade de países da UE são menos competitivos do que eram há um ano e cinco deles são menos que o Irã, frisou Cameron citando números do Fórum Econômico Mundial.
"Em vez de enfrentar o desafio econômico e em vez de enfrentar o desafio do desemprego", a UE está fazendo coisas que dificultam mais a situação, no julgamento do primeiro-ministro do Reino Unido.
Cameron criticou que, "em nome da proteção social, a UE promove medidas desnecessárias", o que pode destruir empregos.
Desde o começo da crise, o nível de dívida soberana per capita na Europa aumentou em 4,5 mil euros, enquanto os investimentos estrangeiros diretos caíram dois terços.
Além disso, em quase metade dos países da UE uma quinta parte dos jovens não tem emprego, segundo Cameron.
O primeiro-ministro do Reino Unido salientou que "o setor financeiro deveria pagar sua parte" na crise financeira e econômica e que o Reino Unido vai garantir que seja assim, mas novamente se opôs à introdução de um imposto sobre transações financeiras como defenderam Alemanha e França.
Cameron qualificou este imposto de "loucura", já que poderia reduzir em 200 bilhões de euros o Produto Interno Bruto (PIB) da UE e custar 500 mil postos de trabalho.
Além disso, Cameron considerou que as tentativas da Rodada de Doha de liberalizar o comércio mundial foram um fracasso e opinou que a UE deveria negociar um comércio livre com os EUA e também com a África.
Em vez de tentar envolver todo mundo ao mesmo tempo, Cameron propôs acordos bilaterais da UE com a Índia, Canadá e Cingapura para o final de 2012, o que poderia acrescentar 90 bilhões de euros ao PIB do bloco europeu. EFE