Jesús Sanchis.
Porto Príncipe, 12 jan (EFE).- Dois anos depois do terremoto que estremeceu Porto Príncipe, muitos dos afetados por aquela catástrofe encontraram fórmulas para manter a esperança no futuro, mas outros ainda vivem o desespero da realidade de um país onde comer a cada dia pode ser uma autêntica odisséia.
"Só Deus pode nos ajudar", diz à Agência Efe Mimose Fontus, uma das mais de 500 mil pessoas que, segundo a ONU, ainda vivem nos acampamentos que surgiram após a tragédia, a qual ficou marcada pela morte de mais de 300 mil pessoas e mais 1,5 milhão de desabrigados.
Mimose - que se instalou na Praça de Champ de Mars há dois anos, no próprio dia 12 de janeiro de 2010 -, não conta nem com água encanada, como ocorre em outros acampamentos, e seus dias transcorrem sob umas imundas lonas em um reduzido espaço. Nesta espécie de barraca, vivem cerca de dez pessoas, entre crianças e adultos, todos sem expectativa de melhora.
"Não temos luz e não temos água. Suportamos o sol, o calor", se queixa a mulher, uma enfermeira, de 40 anos, que também não tem mais trabalho no país onde a taxa de desemprego alcança 95% da população ativa, segundo dados oferecidos esta semana pelo presidente do país, Michel Martelly.
Sob o atento olhar de sua irmã maior, Mimose explica que esta não quer mais falar com jornalistas, quer apenas comer, e diz que o único apoio que podem contar é com o de alguns familiares.
O emprego: essa é a principal preocupação de milhares de haitianos, como Jean Elie, um marceneiro de 26 anos, que se queixa que "em um país sem trabalho o povo não pode viver". Diante da falta de oportunidades, Jean Elie sonha em sair do país e retornar quando as coisas estiverem melhorando.
Um pouco mais otimistas são os moradores do acampamento "Corail", em Croix-des-Buquês, situado na periferia norte de Porto Príncipe. Entre as 10 mil pessoas que ocupam o assentamento está Dimy Jean, um cabeleireiro de 31 anos que conseguiu abrir seu próprio negócio graças a um programa da ONG Oxfam, que forneceu o apoio econômico necessário.
Em um pequeno e organizado estabelecimento, feito com madeiras e teto de metal, Jean cobra o equivalente a US$ 2 por cada corte de cabelo. Quando há trabalho, inclusive para os demais, ele chega a fazer dez cortes, embora nos outros dias o ritmo seja fraco e quase não entra público.
A Oxfam emprestou US$ 3.100, dos que pretende reembolsar 40% durante um ano. Se cumprir essa meta, a organização voltará a entregar essa porcentagem para que siga com seu negócio.
"Não há palavras suficientes para explicar o bem que a organização me fez", explica o trabalhador haitiano, que, graças à ajuda recebida, pôde comprar material de barbearia e também um potente aparelho de som que faz soar a todo volume enquanto trabalha. Segundo Jean, "a música distrai os clientes".
Outro que se sente motivado é Renel Saint Juste, um padeiro de 43 anos. A cada dia, ele fabrica nove tipos de produtos em seu estabelecimento, onde emprega mais sete pessoas graças a outro projeto da ONG.
"Com esta oportunidade posso dar um serviço à comunidade", comenta Renel, que explica que antes de montar seu negócio, os habitantes do acampamento tinham que caminhar até meia hora para comprar apenas um pão.
As campanhas da Oxfam, que também iniciou um projeto de ajuda a 109 pessoas incapacitadas e montou uma rede de água e saneamento no acampamento, já beneficiaram 234 pessoas com essas pequenas empresas, explica à Agência Efe a porta-voz da organização, Amélie Gauthier.
Segundo Amélie, o Haiti superou a primeira etapa de grande emergência e a do fornecimento de ajuda e serviços para enfrentar o dia a dia.
"Agora, o país vive um momento de transição bastante importante em direção à estabilidade e aos de projetos de desenvolvimento a longo prazo", conclui Amélie. EFE