Buenos Aires, 25 jan (EFE).- O Banco Central da Argentina começou
a semana com dois presidentes, um reconhecido pelo Governo e outro
que se nega a deixar o cargo em meio a uma polêmica briga judicial
pelo uso de reservas monetárias para quitar dívidas soberanas neste
ano.
Hoje, o juiz federal de Buenos Aires Norberto Oyarbide confirmou
que vai avaliar a denúncia contra o Governo apresentada ontem por
Martín Redrado.
No domingo, Redrado impediu a entrada na máxima instituição
bancária do país do outro presidente, reconhecido como tal pela
Administração de Cristina Fernández de Kirchner, Miguel Ángel Pesce.
Oyarbide esclareceu aos jornalistas que vai apreciar a denúncia
mesmo no atual período de recesso "se os eventos forem graves".
O conflito estourou no início do mês pela recusa de Redrado de
cumprir um decreto presidencial para o pagamento de dívidas com
reservas, em coincidência com os preparativos da Argentina para
refinanciar os bônus por um total de US$ 20 bilhões que seguem em
moratória desde 2001.
Com isso, os bônus soberanos argentinos reverteram tendência de
alta para baixa, mas sem impacto no mercado de câmbio, nem no nível
de depósitos bancários.
Ontem, Redrado apresentou uma denúncia penal "por abuso de poder"
contra o chefe do gabinete, Aníbal Fernández, e em declarações
publicadas nesta segunda-feira na imprensa o presidente do BC
advertiu que passou da atitude de defesa ao "ataque" ao Governo.
"Tenho as listas específicas dos amigos do poder que compraram
dólares", afirmou o presidente que briga para permanecer no cargo ao
jornal "Clarín", em velada referência aos supostos crimes.
"Se Redrado não faz essa denúncia, vamos denunciá-lo por
encobridor (crimes)", ressaltou hoje o chefe do gabinete.
Fernández insistiu que "não faz sentido" que tenha ido à justiça,
e ressaltou que só o Parlamento pode habilitar o uso das reservas do
Banco Central e suspendeu o decreto presidencial que ordenava o
instituto monetário separar US$ 6,569 bilhões para pagar dívidas
públicas ao longo deste ano.
Designado para um mandato de seis anos que acaba em setembro,
Redrado foi destituído em 8 de janeiro por um decreto presidencial,
posteriormente cancelado em duas decisões judiciais que questionam o
poder do Parlamento de destituí-lo.
A última decisão, ditada na sexta-feira por um tribunal de
apelações, ordena que o Governo "não indique em caráter definitivo"
um novo chefe ao Banco Central até que haja a consulta não
vinculativa a uma comissão bicameral do Parlamento que se reunirá
pela primeira vez amanhã.
Na interpretação do Governo isso significa que Redrado não dirige
mais a entidade monetária e nomeou na sexta-feira Pesce ao cargo,
que até então era vice-presidente do BC.
Pela legislação argentina o pronunciamento da comissão bicameral
- presidida pelo vice-presidente do país, Julio Cobos, inimigo do
Governo desde 2008 - é necessário para a destituição do presidente
do Banco Central, mas a mesma não é vinculativa como a decisão do
Executivo.
O deputado governista Gustavo Marconato, um dos membros da
comissão bicameral, insistiu hoje que é preciso "um rápido
pronunciamento" de modo a acabar o mais rápido possível "o caso
Redrado". EFE