SÃO PAULO (Reuters) -Em um dia marcado por agenda cheia e alta volatilidade, o dólar fechou em baixa ante o real nesta quinta-feira, pela quinta sessão consecutiva, com investidores reagindo positivamente à divulgação do novo arcabouço fiscal e em meio à leitura de que o país segue atrativo ao capital externo, considerando o atual nível dos juros.
A expectativa pelo novo arcabouço, que começou a ser divulgado no fim da manhã, trouxe volatilidade para os negócios, com o dólar registrando ganhos em alguns momentos.Mas à medida que os detalhes da proposta foram saindo, o mercado avaliou positivamente as novas regras, o que abriu espaço para mais um dia de queda da moeda norte-americana.
O dólar à vista fechou o dia cotado a 5,0978 reais na venda, em queda de 0,73%. Nas cinco últimas sessões, a moeda norte-americana acumulou baixa de 3,63%.Na B3 (BVMF:B3SA3), às 17:27 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,88%, a 5,0940 reais.
No início da sessão, o dólar marcou a cotação mínima de 5,0739 reais, em meio à expectativa pelo arcabouço fiscal e com a ajuda do exterior, onde a divisa norte-americana também recuava.
Este movimento, conforme profissionais ouvidos pela Reuters, também foi favorecido pelo diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, que nos últimos dias tem elevado o fluxo de investimentos para o país.
De acordo com o diretor da assessoria de câmbio FB Capital, Fernando Bergallo, com a cotação em 5,07 reais, importadores e participantes do mercado com dívidas em dólar aproveitaram para comprar moeda. Isso fez as cotações subirem.
"De 5,07 reais, virou abruptamente para 5,15 reais. Depois voltou de novo", pontuou Bergallo.
A moeda norte-americana atingiu a máxima de 5,1613 reais ainda no final da manhã, pouco antes do início da divulgação do novo arcabouço fiscal, em Brasília.
Com a divulgação dos detalhes da proposta, a tensão no mercado foi reduzida, e o dólar se firmou no território negativo durante a tarde.
"O mercado ainda está digerindo o arcabouço, mas a princípio foi positivo", comentou Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora.
A proposta do governo para o novo arcabouço fiscal terá uma trava para impedir que os gastos federais cresçam mais do que a arrecadação, mas contará também com um limite mínimo para a evolução das despesas, de acordo com o Ministério da Fazenda, em regra que contará com metas flexíveis para o resultado primário.
Conforme antecipado pela Reuters, a medida estabelece que as despesas públicas não poderão crescer mais do que 70% da variação das receitas.
"Saiu melhor que era esperado. Contém limite de despesas, gatilho para correção de rumo e incentivo para aumentar a arrecadação", afirmou Alexandre Manoel, economista-chefe na AZ Quest, em comentário enviado a clientes.
Também pela manhã, a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação pelo Banco Central não mudou a avaliação de que a Selic, a taxa básica de juros, atualmente em 13,75% ao ano, tem pouco espaço para cair no curto prazo. Como a visão é de que os juros nos EUA, por outro lado, não subirão tanto, o Brasil segue atrativo para os investidores estrangeiros.
"Os EUA estão com o dilema de não aumentar juros. E o Brasil não reduz a taxa. O que sobra é o maior juro real do mundo. Isso atrai investidor", resumiu Rugik.
No exterior, o dólar seguia sustentando perdas no fim da tarde.
Às 17:27 (de Brasília), o índice do dólar --que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas-- caía 0,47%, a 102,160.
(Por Fabrício de Castro; edição de Isabel Versiani e André Romani)