SÃO PAULO (Reuters) - Após chegar a subir 0,81% durante a manhã, o dólar à vista perdeu força ao longo da sessão e fechou esta quinta-feira em baixa. A virada, que ocorreu à tarde, esteve em sintonia com o movimento no exterior, onde a moeda americana também perdeu força ante outras divisas de países emergentes e exportadores de commodities.
Um comentário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à CNN Brasil, dizendo que não tem interesse em brigar com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, contribuiu para que o dólar fosse para o campo negativo.
O dólar à vista fechou o dia cotado a 5,2118 reais, em baixa de 0,12%.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 17:08 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha variação negativa de 0,02%, a 5,2265 reais.
Pela manhã, o dólar à vista chegou a ser cotado na faixa dos 5,26 reais, em sintonia com o exterior. A alta de 0,7% do índice de preços ao produtor dos Estados Unidos em janeiro, acima da elevação de 0,4% esperada por analistas, deu força à ideia de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) poderá manter os juros em patamares mais elevados por mais tempo. Com isso, o dólar se mantinha em território positivo ante as demais moedas.
À tarde, o movimento perdeu fôlego. Perto das 15h (horário de Brasília), o dólar já havia passado a cair ante moedas como o dólar australiano e o rand sul-africano. No Brasil, a moeda americana virou ante o real.
“O dólar abriu o dia em queda, mas passou a subir com os dados americanos. A percepção era de que os juros poderiam seguir altos nos EUA”, disse Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora. “Depois, o dólar foi perdendo força ante as moedas emergentes.”
No Brasil, o movimento foi favorecido pelos comentários de Lula sobre Campos Neto, na entrevista à CNN Brasil. “Como presidente da República, não me interessa brigar com um cidadão que é presidente do Banco Central, que eu pouco conheço, eu vi ele uma vez", afirmou o presidente.
Na visão de parte do mercado, a afirmação de Lula contribui para reduzir a temperatura em torno de discordâncias entre o governo e o BC sobre a meta de inflação. Ainda assim, o dólar não teve espaço para cair ainda mais ante o real nesta quinta-feira, justamente porque investidores aguardavam o resultado da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), a ser divulgado após o fechamento dos negócios.
O colegiado é responsável por definir a meta de inflação, em decisão que normalmente é tomada em junho. No início desta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou que o tema da meta de inflação estaria na pauta do CMN desta quinta.
“É preciso ver o CMN. Por mais que (Haddad) tenha afastado o papo de mexer em meta de inflação agora, o assunto ainda está no topo de prioridades do mercado”, alertou o gerente da mesa de derivativos financeiros da Commcor, Cleber Alessie.
Para sexta-feira, a expectativa é de que alguns agentes do mercado possam atuar na ponta de compra de dólares, para se protegerem antes do feriado prolongado do Carnaval. Enquanto os negócios estarão parados no Brasil, os mercados funcionarão normalmente no exterior.
(Por Fabrício de Castro)