SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em queda e voltou abaixo de 3,60 reais nesta quarta-feira, em meio à recuperação do bom humor nos mercados externos e com operadores citando fluxos corporativos de venda de divisas no Brasil.
Investidores continuaram cautelosos em relação ao cenário político brasileiro, porém, em meio a escândalos envolvendo figuras importantes do governo.
O dólar recuou 0,68 por cento, a 3,5879 reais na venda, após marcar em maio a maior alta mensal em oito meses. A moeda norte-americana chegou a cair a 3,5859 reais na mínima e subir a 3,6365 reais na máxima da sessão.
"Vimos alguns vendedores de dólares ao longo do dia, provavelmente atraídos pelas cotações altas", disse o operador da corretora Spinelli José Carlos Amado.
Ele citou ainda o fato de que o dólar reduziu o avanço em relação às principais moedas emergentes, em linha com a recuperação dos preços do petróleo após chegarem a cair mais de 2 por cento pela manhã. Quatro fontes da Opep afirmaram à Reuters que a organização provavelmente vai discutir novo teto de produção em reunião na quinta-feira.
O mercado também observou com ceticismo os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que contraiu menos que o esperado no primeiro trimestre.
"O número cheio (do PIB) é um pouco enganador. Quando você abre os dados, percebe que um fator importante foram os gastos do governo, que tendem a diminuir no futuro", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
A economia brasileira encolheu 0,3 por cento no primeiro trimestre em relação ao período anterior, abaixo da contração de 0,8 por cento prevista por analistas em pesquisa Reuters. O consumo do governo mostrou expansão de 1,1 por cento na comparação com o quarto trimestre de 2015.
O governo do presidente interino Michel Temer propôs na semana passada limites de gastos públicos e vem afirmando que anunciará outras medidas para colocar a economia de volta nos trilhos.
Muitos operadores temem, porém, que enfrente dificuldades para angariar apoio no Congresso Nacional devido à instabilidade política. Essa percepção ganhou força nas últimas semanas com a saída de dois ministros em meio a notícias sugerindo que eles se oporiam às operação Lava Jato, que investiga escândalo de corrupção centrado na Petrobras (SA:PETR4).
"Não tem como fugir da política, tem muita incerteza que pode mexer no mercado", resumiu o superintendente de derivativos de uma gestora de recursos internacional.
Nesta sessão, no entanto, o governo conquistou um avanço com a comissão especial da Câmara que analisa a proposta de recriação da Desvinculação de Receitas da União (DRU) aprovando o parecer que permite ao governo realocar livremente 30 por cento das receitas obtidas com taxas, contribuições sociais e de intervenção sobre o domínio econômico (Cide).
O Banco Central não promoveu qualquer intervenção cambial para esta sessão. A autoridade monetária realizou na sessão passada leilão de venda de dólares com compromisso de recompra, após ficar ausente do mercado por sete sessões consecutivas.
(Por Bruno Federowski)