SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou abaixo de 3 reais nesta quinta-feira, reagindo à inesperada queda dos preços ao produtor nos Estados Unidos, que corroborou outros indicadores norte-americanos mais fracos que o esperado, reduzindo o temor de uma elevação em breve dos juros na maior economia do mundo.
A moeda norte-americana recuou 1,51 por cento, a 2,9927 reais na venda. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 1,2 bilhão de dólares.
Na véspera, números fracos sobre o varejo norte-americano já haviam alimentado expectativas de que o Federal Reserve irá postergar o aumento de juros. Nesta sessão, essas apostas ganharam mais força após os preços ao produtor dos EUA caírem 0,4 por cento em abril, contra estimativas de alta de 0,2 por cento.
"A economia dos EUA teve um início decepcionante no segundo trimestre", escreveram analistas da instituição financeira norte-americana Brown Brothers Harriman (BBH) em nota a clientes. Eles ressaltaram que, embora a taxa de desemprego pareça estar caindo mais rapidamente do que o esperado, o Fed "provavelmente se verá na difícil posição de ter de reduzir suas projeções de crescimento para o ano na reunião de junho".
Nesse contexto, o dólar recuava em escala global, apesar da volatilidade observada nos mercados mundiais de títulos soberanos. Os rendimentos dos juros dos papéis dos Estados Unidos e da Alemanha vêm subindo com força recentemente, o que tende a diminuir a atratividade de ativos de países como o Brasil.
Investidores têm afirmado que o dólar deve mostrar dificuldade para se sustentar abaixo de 3 reais. Pouco após a divisa romper esse patamar pela última vez, o Banco Central sinalizou que deve rolar apenas parcialmente os swaps cambiais que vencem em junho, levando alguns agentes econômicos a apostar que a autoridade monetária aproveitará o alívio no câmbio para diminuir sua posição em swaps.
"Há muita resistência nesse patamar, o quadro teria que mudar bastante para o dólar conseguir se firmar abaixo de 3 reais", afirmou o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de swaps para rolagem dos contratos que vencem em junho. O BC já rolou o equivalente a 3,545 bilhões de dólares, ou cerca de 37 por cento do lote total, que corresponde a 9,656 bilhões de dólares.
Investidores atentavam também para a conclusão da votação na Câmara dos Deputados da Medida Provisória 664, após a Casa contrariar o governo e aprovar na véspera a flexibilização do Fator Previdenciário, mecanismo que limita o valor da aposentadoria de pessoas mais novas.
"O impacto sobre as contas públicas não é tão significativo, mas é mais um sinal de que ainda há muitos atritos entre governo e Congresso", afirmou o estrategista de um banco internacional.
(Por Bruno Federowski)