Por Andre Romani
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista caiu frente ao real nesta terça-feira, diante do enfraquecimento da moeda norte-americana no exterior, após dados nos Estados Unidos reforçarem sinais de arrefecimento da inflação, e com recepção positiva no mercado a declarações de autoridades do Ministério da Fazenda.
Agentes financeiros aguardam por decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed) a ser divulga na quarta-feira, assim como do Banco Central (BC) do Brasil.
O dólar à vista caiu 0,75%, a 5,0761 reais na venda. Em janeiro, a moeda teve queda de 3,82%, após dois meses seguidos de alta, impactado por entrada de recursos no país, à medida que a reabertura da China tornou moedas de emergentes mais atrativas e perante ao diferencial de juros entre o Brasil e países desenvolvidos.
O chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Novaes, disse à Reuters que o cenário do câmbio nesta terça-feira foi "um pouco mais do mesmo do que vem acontecendo em 2023 e desde o final do ano passado".
Entre os fatores externos, "o índice de custo de emprego dos EUA ajudou (a reforçar) a tese de que o Fed está caminhando para o fim do ciclo" de alta de juros, afirmou ele.
O Índice de Custos do Emprego subiu 1,0% no quarto trimestre, informou o Departamento do Trabalho nesta terça-feira após alta de 1,2% no período de julho a setembro. Economistas consultados pela Reuters projetava aumento de 1,1%.
Com a desaceleração e o resultado marginalmente abaixo do esperado, o índice junta-se a uma série de outros indicadores recentes que sinalizaram certo alívio na inflação norte-americana.
A leitura vem um dia antes da divulgação de nova decisão de política monetária do Fed. O banco central norte-americano deve elevar sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual, em nova redução no ritmo dos aumentos, e investidores aguardam ansiosos por sinalizações da instituição sobre seus próximos passos.
O Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra (BoE) também se reúnem nesta semana para decisões de juros.
O dólar, que avançava pela manhã ante uma cesta de moedas fortes, reverteu movimento após a publicação do indicador e operava em queda de cerca de 0,15%. Frente a divisas emergentes, o dólar tinha desempenho misto.
Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, disse que o cenário na sessão foi "mais pró-risco", mencionando, além dos dados nos EUA, indicadores de atividade econômica da zona do euro e da China.
Outro fator que favoreceu o real nesta terça-feira foi a cena local. Declarações de autoridades do Ministério da Fazenda foram novamente bem recebidas pelo mercado e ajudaram o dólar a acelerar queda ante o real no final da manhã.
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou, em evento promovido pelo Credit Suisse (SIX:CSGN), que não há discussão no Ministério da Fazenda sobre uma eventual mudança na meta para a inflação. Além disso, disse que o novo arcabouço fiscal do país deverá apontar uma trajetória para a dívida pública e usar o resultado primário como instrumento, com uma regra que mostre o horizonte do gasto público.
Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou após agenda na Febraban que não discute o tema da desoneração de combustíveis desde o início de janeiro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu prorrogar o benefício, ressaltando que o tema poderá ser revisitado pelo mandatário, embora a pasta ainda não tenha sido acionada.
Novaes, do C6, cita um "discurso uníssono da equipe econômica, de responsabilidade fiscal" e que, em sua avaliação, vai "na direção positiva". Segundo ele, não teve uma fala específica que ajudou o câmbio, e o impacto veio do panorama mais geral.
No entanto, ele afirmou que "para o real ter movimentos consistentes de melhora é preciso ter os fatos efetivamente", em referência a medidas mais práticas, não apenas discursos.
O BC também entra em foco, já que, assim como alguns de seus pares globais, também divulga decisão de juros na quarta-feira, com expectativa majoritária de manutenção da Selic a 13,75%. O foco deve ficar no comunicado, em meio a uma alta recente das expectativas de inflação.
Operadores citaram ainda certa volatilidade pela manhã devido à formação da Ptax, calculada ao fim de cada mês pelo BC. Agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar, o que geralmente eleva a volatilidade.