Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em queda e renovou mínima em dois meses ante o real nesta quinta-feira, com o mercado espelhando a fraqueza da moeda norte-americana no exterior em meio a alguma recuperação do apetite por risco nas bolsas de valores.
O dólar à vista caiu 0,45%, a 5,3131 reais na venda, após perder 0,74%, a 5,2975 reais, na mínima intradiária.
É o menor patamar para um encerramento desde 17 de setembro (5,2319 reais).
Na B3 (SA:B3SA3), o dólar futuro recuava 0,91%, a 5,3160 reais, às 17h23.
No exterior, pares tradicionais do real como peso mexicano (+1,1%), rand sul-africano (+0,4%) e lira turca (+2,2%) também apreciavam. O índice do dólar frente a uma cesta de divisas fortes cedia 0,15% no fim da tarde.
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Dentre outros mercados, o Ibovespa subia 0,4% após cair 0,5% na mínima, enquanto em Nova York o índice S&P 500 ganhava 0,2%, revertendo queda de quase 0,7% no pior momento do dia.
Operadores comentaram que a melhora dos ativos pode ter ocorrido conforme dados fracos do mercado de trabalho norte-americano teriam reforçado expectativas de mais estímulos econômicos, especialmente num momento em que a pandemia de Covid-19 se agrava nos Estados Unidos, dita novas restrições e ameaça a solidez da retomada da atividade.
Mas a confiança segue instável, algo sinalizado pela alta de 0,77% do dólar mais cedo, para 5,3785 reais, antes de a moeda fechar em baixa. Na quarta-feira, o sinal foi inverso: a cotação abandonou queda de cerca de 1% e terminou em leve ganho.
Na leitura do Morgan Stanley (NYSE:MS), operadores ainda mostram algum ceticismo sobre a disposição do Banco Central em fazer ofertas líquidas de moeda estrangeira no fim do ano para fazer frente ao aumento sazonal da moeda e, neste ano, também ao desmonte de operações de "overhedge".
"Uma retórica adicional também sugeriu que o BC poderia ser mais passivo em sua abordagem, apenas ajudando se o mercado não puder lidar com o volume adicional, sugerindo que o real pode precisar sofrer pressão considerável antes que o banco intervenha", disseram analistas do Morgan Stanley em nota.
Na avaliação de Gustavo Rangel, economista-chefe do banco ING, um fator por trás da depreciação nominal da taxa de câmbio desde meados de 2019 --a forte queda da taxa de juros-- deverá continuar a ser sentido pela moeda em 2021, quando ele não espera um aumento da Selic.
Porém, a perspectiva de que o país tenha um dos melhores desempenhos econômicos na América Latina em 2020 (contração de 4,3% do PIB prevista pelo ING) e o prognóstico de expansão de 3,9% em 2021 (com viés de alta) favorecem o real.
"Esperamos que um viés de apreciação do real surja gradualmente ao longo de 2021, à medida que as contas externas continuam a melhorar e os riscos fiscais diminuem, ajudados pela recuperação e redução dos custos do serviço da dívida", acrescentou Rangel em nota.