Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subia quase 1,5 por cento ante o real nesta sexta-feira após o Reino Unido votar por deixar a União Europeia, mas a pressão era limitada pela perspectiva de que bancos centrais possam tomar medidas para oferecer segurança ao mercado, tanto no exterior quanto no Brasil.
Às 10:20, o dólar avançava 1,46 por cento, a 3,3933 reais na venda. A moeda norte-americana chegou a 3,45 reais na máxima da sessão, alta de 3,15 por cento e equivalente a mais de 10 centavos.
Investidores vinham apostando que a campanha pela permanência seria vitoriosa, o que trouxe o dólar abaixo de 3,35 reais pela primeira vez em um ano na véspera. Nesta sessão, o dólar futuro avançava cerca de 1,5 por cento.
"O mercado sangrou um pouco do referendo e teve que desfazer parte do otimismo dos últimos dias. Mas o movimento é mais um ajuste do que um pânico generalizado", disse o economista da corretora Renascença Marcos Pessoa.
O referendo apresentou placar apertado de 51,89 por cento contra 48,11 por cento e forçou a renúncia do primeiro-ministro David Cameron. Analistas temem que a decisão possa atingir investimentos na quinta maior economia do mundo, ameaçar o papel de Londres como capital financeira global e gerar meses de incertezas políticas.
Ativos considerados portos-seguros, como ouro e títulos alemães, disparavam, enquanto a libra esterlina despencou ao menor nível em 31 anos frente ao dólar. Em relação ao fechamento do real na quinta-feira, a libra caía cerca de 7 por cento.
No entanto, a pressão sobre o câmbio era limitada pela perspectiva de novos estímulos de bancos centrais estrangeiros e até mesmo a possibilidade de o Federal Reserve, banco central norte-americano, postergar o aumento de juros.
"Quando a poeira baixar, acreditamos que a decisão (do Reino Unido de deixar a UE) não deve ter efeito sustentado, especialmente fora do centro da Europa e do leste europeu", escreveram analistas do banco Societé Générale em relatório.
Em nota, o BC brasileiro destacou que está monitorando os mercados financeiros após o referendo e que, caso necessário, "adotará as medidas adequadas para manter o funcionamento normal dos mercados financeiro e cambial".
"O BC ganhou no gogó, conseguiu tranquilizar um pouco o mercado. Não vai precisar usar qualquer ferramenta, seja swap ou linha", disse o operador de um banco nacional que opera diretamente com a autoridade monetária, referindo-se aos swaps cambiais, que equivalem a compra ou venda futura de dólares.
O BC tem atuado muito pouco nos mercados cambiais nas últimas semanas, realizando apenas dois leilões de linha para rolagem desde 19 de maio.