Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar voltou a ampliar a queda frente ao real nesta terça-feira, após o Banco Central anunciar leilão de venda de dólares com compromisso de recompra, em sessão marcada pela expectativa por novos desdobramentos no campo político local.
Um pouco mais cedo, a moeda norte-americana chegou a reduzir as perdas frente ao real, sucumbindo ao ambiente de aversão a risco nos mercados globais diante da queda dos preços do petróleo e do fraco desempenho comercial na China.
Às 14:10, o dólar recuava 0,68 por cento, a 3,7679 reais na venda
O real era a moeda com melhor desempenho na América Latina, mantendo a tendência da semana passada. O tom positivo, no geral, tem predominado no mercado doméstico conforme cresce a percepção de que os escândalos de corrupção no âmbito da operação Lava Jato estariam elevando a chance de a presidente Dilma Rousseff não concluir seu mandato.
A moeda norte-americana subiu 0,88 por cento na sessão passada, em movimento de correção depois de marcar o maior tombo semanal desde 2008. O dólar futuro, que havia reduzido o avanço após o fechamento do mercado à vista na véspera, caía cerca de 0,40 por cento nesta sessão.
"Os mercados globais estão sofrendo com a China e o petróleo, mas o real continua tendo desempenho melhor por causa do contexto político local", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
O Banco Central anunciou a realização de leilão de linha na quarta-feira, de até 2 bilhões de dólares. A operação, segundo a assessoria de imprensa do BC, não é para rolagem de contratos já existentes.
"O objetivo (do BC) com essa operação é oferecer liquidez ao mercado", disse o especialista em câmbio da Icap Corretora, Italo Abucater, acrescentando que os volumes de negócios estão muito reduzidos.
Os preços do petróleo voltaram a cair no fim da manhã após o Kuwait afirmar que concordará em congelar a produção apenas se os principais produtores da commodity participarem do acordo. Relatório do Goldmans Sachs afirmando que o rali recente é prematuro e insustentável também pesou.
O pessimismo nos mercados globais vinha também em reação a dados mostrando que o desempenho comercial da China em fevereiro foi muito pior do que a expectativa de economistas.
"Ainda que o quadro pareça mais estável na China, com o governo sinalizando que adotará estímulos fiscais e monetários nos próximos meses, os dados recentes aumentaram a cautela dos investidores", escreveram analistas da corretora Guide Investimentos em nota a clientes.
No Brasil, porém, a pressão era limitada conforme investidores aguardavam novos desdobramentos no quadro político. O tema impeachment voltou a crescer recentemente à medida que as investigações de corrupção no Brasil se aproximaram do governo, sobretudo após a operação Lava Jato ter chegado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fim da semana passada.
"Mudou um pouco o tom do mercado local desde a semana passada. Se antes todo o mercado estava muito pessimista, agora algumas pessoas estão vendo motivo para vender (dólares)", disse o operador da corretora Spinelli José Carlos Amado.
Alguns operadores acreditam que uma mudança no governo poderia ajudar na recuperação da credibilidade do Brasil com investidores. Outros ressaltam, porém, que a perspectiva de turbulências políticas representa forte entrave e não há garantia de que eventual troca resultaria em quadro mais favorável para a economia brasileira.
Nesta manhã, o BC promoveu mais um leilão de rolagem dos swaps que vencem em abril, vendendo a oferta total de 9,6 mil contratos. Ao todo, a autoridade monetária já rolou 2,723 bilhões de dólares, ou cerca de 27 por cento do lote total, que equivale a 10,092 bilhões de dólares.
(Reportagem adicional de Flavia Bohone)