Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - Chuvas recentes no Sul do Brasil provocaram problemas de qualidade na atual safra recorde de trigo, que em algumas regiões já está sendo colhida, disseram especialistas nesta terça-feira.
No Paraná, principal Estado produtor, a proporção de lavouras em boas condições caiu de 88 por cento para 75 por cento nas últimas duas semanas, mostraram dados da Secretaria Estadual de Agricultura nesta terça.
O trigo colhido nos últimos dias, exposto à umidade das chuvas do fim de setembro, perdeu qualidade, e as lavouras que ainda serão colhidas no Estado --cerca de 47 por cento da área total-- também podem ter problemas.
"O reflexo mais comum é perda de PH (peso hectolitro)", uma medida de qualidade bastante usada para avaliação nas compras pelos moinhos, disse o engenheiro agrônomo Carlos Hugo Godinho, do Departamento de Economia Rural (Deral).
Segundo ele, antes das chuvas era comum encontrar trigo com PH acima de 78, um nível muito apreciado pela indústria. No entanto, as chuvas derrubaram o PH do grão colhido recentemente.
"Este ano, para o produtor vender abaixo de PH 78, vai ter bastante dificuldade", disse Godinho, ressaltando que a safra brasileira será a maior da história, aumentando a concorrência e reduzindo a atratividade de trigo de menor qualidade.
O Brasil deverá colher 7,67 milhões de toneladas de trigo em 2014, alta de 39 por cento ante 2013 --ano de quebra de safra em função de problemas climáticos.
O Paraná responderá por cerca de 4 milhões de toneladas e o Rio Grande do Sul por cerca de 3 milhões, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
RIO GRANDE DO SUL
A colheita no Rio Grande do Sul ainda não começou, mas as doenças fúngicas, que também podem derrubar a qualidade do grão, já preocupam.
"O clima está péssimo para a cultura do trigo. Tivemos cinco dias de chuvas torrenciais", disse o engenheiro agrônomo, da cooperativa Cotrisa, de Santo ngelo, no noroeste gaúcho.
Segundo ele, cerca de metade das lavouras da região terão quebra de qualidade devido à umidade.
"Lavouras implantadas no início do período recomendado apresentam-se com aspecto visual de baixa qualidade, com falhas nas espigas e evolução desuniforme de plantas. Devido à alta umidade, o tratamento com fungicidas fica prejudicado", disse a Emater/RS, órgão estadual de assistência técnica, em relatório semanal.
Segundo a Emater, 10 por cento das lavouras do Rio Grande do Sul já estão na fase de maturação, a última antes da colheita.