Washington, 30 dez (EFE).- O presidente americano, Barack Obama, decidiu nesta sexta-feira, de última hora, adiar a solicitação ao Congresso para elevar o teto de dívida do país, fazendo com que 2012 comece com uma nova votação que previsivelmente confrontará outra vez republicanos e democratas.
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos havia anunciado no início da semana que a dívida nacional estava a apenas US$ 100 bilhões de atingir o limite pactuado em agosto, de US$ 15,2 trilhões.
Por isso, era esperado que Obama enviasse hoje, no fechamento dos mercados, o pedido ao Congresso para que os legisladores submetessem à votação nos próximos 15 dias a proposta de elevar o teto da dívida pública para US$ 16,4 trilhões.
No entanto, os congressistas estão de férias e não devem retomar as atividades até o dia 17 de janeiro, e por isso pediram ao presidente que enviasse a proposta mais tarde.
Diante desta situação, Obama concordou em esperar a reabertura de ambas Câmaras e não forçar uma decisão, para evitar uma imagem de dureza e intransigência perante a população.
"A Administração está em discussões com os líderes de ambas Câmaras para determinar o melhor momento para a apresentação da solicitação e a subsequente votação no Congresso", afirmou Josh Earnest, porta-voz adjunta da Casa Branca, de Honolulu, no Havaí, onde Obama descansa nestas festas de fim de ano.
Enquanto isso, o Departamento do Tesouro garante que dispõe de mecanismos de contabilidade válidos para manter as contas públicas sem prejudicar a credibilidade creditícia do país até que a solicitação seja finalmente apresentada.
O enfrentamento em torno do teto da dívida nacional foi um dos capítulos mais quentes nas tensas relações entre Obama e o Congresso durante 2011.
Desde as eleições legislativas de novembro de 2010, o Congresso está divido entre os republicanos, que controlam a Câmara de Representantes, e os democratas, que têm maioria no Senado, o que fez com que muitas das iniciativas presidenciais fossem paralisadas no trâmite legislativo.
A queda-de-braço entre ambos fez os Estados Unidos perderem sua qualificação creditícia AAA, a máxima possível, diante da incerteza sobre a capacidade das instituições em reequilibrar o avultado déficit fiscal.
Finalmente, um acordo temporário e de última hora em agosto evitou que o país declarasse uma suspensão parcial de pagamentos, mas serviu apenas para ressaltar a incapacidade dos partidos de chegarem a um pacto sustentável e durável.
Na ocasião, o legislativo americano estabeleceu um aumento do teto da dívida em US$ 2,1 trilhões em três passos, ao mesmo tempo que se comprometeu a reduzir US$ 2 trilhões do déficit dos EUA nos próximos dez anos.
Até agora, o teto de dívida dos EUA se elevou em US$ 900 bilhões.
O fracasso voltou a assombrar o país dois meses depois quando o chamado supercomitê bipartidário, formado por seis congressistas de cada partido encarregados de elaborar um plano de redução do déficit, acabou jogando a toalha e reconhecendo que as diferenças eram grandes demais.
Como obstáculo intransponível se manteve a questão das receitas, elemento considerado inegociável tanto por republicanos como por democratas.
Os primeiros porque argumentam que em tempos de fraqueza econômica elevar a carga de impostos prejudica o investimento; os segundos porque garantem que não é defensável um plano de ajuste fiscal focado só no corte de gastos e que não inclua "sacrifícios compartilhados" por parte dos cidadãos em melhor situação econômica.
Deste modo, a batalha se prolonga e o ano que vem começará com o mesmo acalorado debate sobre as contas públicas.
2012 será um ano eleitoral, no qual Obama buscará a reeleição e no qual são esperadas mais negociações para evitar que entrem em ação os mecanismos de cortes automáticos previstos no pacto de agosto caso o supercomitê não chegasse a um acordo.
Estes cortes implicariam substanciais reduções de US$ 500 bilhões em cada caso, no início de 2013, da despesa militar e dos programas sociais, áreas consideradas como temas intocáveis para republicanos e democratas, respectivamente. EFE