César Muñoz Acebes.
Washington, 3 nov (EFE).- Os juros subirão em até dois pontos
percentuais em nível mundial nos próximos anos, devido ao aumento da
dívida dos países ricos, afirmou hoje o Fundo Monetário
Internacional (FMI), que pediu planos para colocar fim ao déficit.
A alta prevista dos juros encarecerá o custo dos empréstimos
públicos e privados tanto nos países avançados quanto nas nações em
desenvolvimento, o que freará o crescimento a médio prazo, segundo a
entidade.
O aumento dos juros será impulsionado por uma dívida pública que
chegará a 118% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 nos países
avançados, explicou o FMI, em um relatório sobre a situação
orçamentária dos membros do Grupo dos Vinte (G20, os países ricos e
os principais emergentes).
Para reverter esses números, seria preciso um grande esforço de
economia pública, mas isso é algo que não deve começar
imediatamente, segundo o Fundo.
O diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI, Carlo
Cottarelli, afirmou que os países que aprovaram medidas de estímulo
devem mantê-las em 2010.
"A recuperação ainda é frágil e é o resultado, em parte, desse
respaldo, por isso seria prematuro retirar o apoio fiscal", disse,
em entrevista coletiva.
Enquanto isso, os países ricos saem lentamente da crise, a
atividade econômica nas nações emergentes acelerou e o Fundo prevê
que Brasil, México e Turquia já começarão no próximo ano a "apertar
o cinto" para sanear suas contas fiscais.
Ao contrário de outras crises, o ritmo mais forte da recuperação
nos países em desenvolvimento torna sua dívida mais manejável.
O encargo das obrigações públicas diminuirá no Brasil e na
Argentina, onde vai equivaler a aproximadamente 66% e 58% do PIB no
ano que vem, segundo o FMI.
Apesar de que a dívida brasileira continuará acima de 60%,
Cottarelli afirmou que "não é uma fonte de preocupação imediata".
O México, outro país latino-americano que pertence ao G20,
manterá sua dívida em torno de 48% do PIB no próximo ano, segundo o
Fundo.
No relatório, o FMI pediu aos Governos dos países ricos que
"elaborem e comuniquem, atualmente, estratégias críveis de saída"
para seus programas de estímulo.
Não basta um anúncio sobre quando retirarão essas medidas, mas os
Governos dos países avançados devem considerar aumentos de impostos
equivalentes a 3% do PIB, de acordo com o Fundo.
O FMI também defendeu um congelamento da despesa per capita,
excluindo previdência e saúde - que aumentarão, inevitavelmente, com
o envelhecimento da população -, e pediu reformas para manter o
crescimento do desembolso nesses dois âmbitos no mesmo ritmo do
aumento anual do PIB.
O objetivo deve ser uma melhora do déficit primário (o saldo das
contas públicas antes do pagamento dos juros da dívida), equivalente
a 10,5% do PIB na próxima década, e mantê-lo nesse nível por mais
dez anos, de acordo com o relatório.
Isso significa que os países ricos terão que economizar muito
mais, de modo que sua dívida caia de 114% do PIB em 2014 para 60% em
2030, que era a média antes da crise, segundo o organismo
financeiro.
Este ano, os membros do G20 terão um déficit coletivo de 7,9% do
PIB, devido à recessão e às medidas de estímulo econômico. Para o
próximo ano, diminuirá para 6,9%, um número um pouco melhor que a
anterior previsão do FMI, divulgada em julho.
No entanto, a baixa é porque os Governos perderão menos com seus
programas de respaldo ao setor financeiro, onde as condições
melhoraram.
Excluindo esse fator, o déficit, na realidade, aumentará no
próximo ano, devido ao aumento do desemprego e à alta de outros
tipos de despesa, segundo o FMI. EFE