Andrés Mourenza.
Atenas, 14 dez (EFE).- Muita gente na Grécia lembrará 2011 como o ano em que a crise da dívida levou muitos dos seus postos de trabalho, incluindo o do primeiro-ministro, o socialista Giorgos Papandreou.
O líder do Partido Socialista Pan-helênico (Pasok), que chegou ao Governo em 2009 com o lema "Há dinheiro!" só para perceber que a anterior administração conservadora havia deixado um imenso rombo nas contas públicas, se viu obrigado pelos credores da Grécia a impor impopulares medidas de austeridade.
Em setembro, o Governo anunciou que desde 2010 foram eliminados os postos de cerca de 200 mil funcionários públicos - a base das demissões de trabalhadores com contratos temporários e aposentadorias antecipadas -, enquanto outros 35 mil passaram à reserva.
Os demais perderam seus pagamentos extras e tiveram seus salários rebaixados em 15%, após uma primeira redução de 12% um ano antes. As pensões também foram cortadas entre 20% e 40%.
Além disso, foi elevado o IVA dos produtos básicos (2% mais) e a restauração (10% mais), o preço do transporte público (40% mais), as licenças de automóveis (20% mais) e as faturas de água, gás, eletricidade e telefone (entre 2% e 10% mais).
Também foram criados vários impostos de emergência: um solidário, que eleva o encargo das rendas entre 1% e 5%; outro sobre os imóveis, com tarifa de 4 a 12 euros por metro quadrado; e uma contribuição adicional anual de 300 euros para os autônomos.
Além disso, hospitais foram fechados e a despesa com Educação acabou reduzida para frear o déficit público.
Papandreou fez o apelo para que o país escolhesse entre "o caminho duro da mudança ou a catástrofe", dando a entender que não restava outro remédio ao país que não aceitar os cortes.
Mas estas medidas não impediram o aumento do déficit, que rondará 9% no final deste ano, nem criaram confiança nos credores, mas empobreceram consideravelmente o país.
Cerca de 60 mil pequenos negócios fecharam e milhares de trabalhadores estão há meses sem cobrar seus salários devido às dificuldades econômicas que afetam suas empresas.
O desemprego superou 18% e também cresceu o número de pessoas que ficaram sem um lar.
Os sindicatos consideram que a conta caiu no colo de quem não tem culpa pela crise, e por isso convocaram sete greves gerais em 2011, dezenas de interrupções setoriais e centenas de protestos, algumas das quais culminaram em graves distúrbios.
Foi criado inclusive o movimento dos 'indignados', à semelhança do espanhol, que durante semanas ocupou a simbólica Praça Syntagma.
Em junho, perante os rumores de uma iminente quebra do país, Papandreou propôs a formação de um Governo de união nacional, o que o líder conservador Antonis Samaras rejeitou, exigindo a derrogação das medidas de austeridade.
Diante desse cenário, o primeiro-ministro socialista resolveu remodelar o Governo, deixando o Ministério das Finanças a cargo de seu principal rival dentro do Pasok, o até então ministro da Defesa, Evangelos Venizelos.
A maior surpresa chegou com o novo acordo de resgate pactuado com a União Europeia em 27 de outubro, quando o bloco concordou em fornecer à Grécia um novo empréstimo de 130 bilhões de euros e o perdão de 50% da dívida em mãos de entidades privadas, em troca de mais economia.
Então, perante o crescente descontentamento popular, o dirigente heleno anunciou a convocação de um referendo sobre o acordo com Bruxelas, algo que surpreendeu a UE e o seu próprio partido, que viveu uma verdadeira rebelião interna.
Finalmente, a pressão dos parceiros europeus fez com que a consulta fosse cancelada.
Porém, o destino de Papandreou estava selado e o líder apresentou sua renúncia após chegar a um acordo com a conservadora Nova Democracia e o ultradireitista LAOS para formar um Governo de unidade, dirigido pelo ex-vice-presidente do Banco Central Europeu Lucas Papademos.
O novo Executivo se apresentou como um Governo de transição que tem o objetivo de ratificar as medidas exigidas pela UE, como demonstrou com seu draconiano orçamento para 2012.
Segundo as pesquisas, 80% dos gregos consideram positiva a renúncia de Papandreu, e 70% apoiam um Governo de unidade. EFE