Álvaro Mellizo.
Montevidéu, 5 dez (EFE).- As grandes consultorias e os investidores mais argutos do mundo das finanças dificilmente poderão superar neste ano os jovens estudantes de dois colégios de Montevidéu cujo projeto escolar de investimento na bolsa de valores obteve um lucro de 42,5%, dinheiro que será destinado a obras de caridade.
No total, os alunos dos colégios Uruguaio-Americano e British Schools obtiveram de seus investimentos na Bolsa de Nova York, durante quatro meses, cerca de US$ 10 mil através de sua cuidadosa seleção de ativos, ao tempo em que aprendiam os conceitos básicos da economia e dos mercados de valores.
O sucesso dos rapazes, de idades entre 17 e 18 anos, é explicado pelo fato de que, segundo seu professor de economia e criador do projeto, John Younger, "os jovens entendem mais da economia real que Wall Street. Sabem o que as pessoas usam, sabem o que eles querem e sabem o que virá em seguida antes que se inteirem os grandes investidores em suas torres de cristal".
Este projeto começou quando Younger, um ex-banqueiro canadense que trabalhou durante anos para grandes empresas de Manhattan e que se mudou para o Uruguai com sua família para dedicar-se ao ensino, decidiu buscar uma forma criativa de ensinar os mistérios da economia a seus alunos.
"Quando eu estudei economia, tudo era muito técnico e teórico e não havia aplicações reais. Portanto, quando eu comecei a ensinar, pensei que o melhor seria mostrar aos rapazes uma experiência real, que, por sua vez, permitisse pensar e usar os conceitos que vemos nas aulas", explicou Younger à Agência Efe.
Sendo assim, o ex-banqueiro entregou dinheiro do seu próprio bolso aos seus alunos para que criassem sua carteira de ações, com a única condição de que fossem empresas cotadas em Nova York e que justificassem na sala de aula o porquê de acreditarem que dariam lucro.
"Os resultados foram extraordinários. Os estudantes criaram quatro carteiras de investimento e todas obtiveram lucro acima do mercado. E eles fizeram tudo: escolheram as ações, quando vender, quando comprar, chamar o corretor da bolsa. Ou seja, tudo", assinalou o professor.
Para os alunos de Younger, como Heidi Szeinfeld, de 17 anos, a experiência de investir na bolsa foi uma "grande oportunidade para aprender como funciona o mundo e a economia".
"Nos demos conta de que na bolsa nem sempre o seguro é o que convém e que também é preciso ter paciência", apontou Szeinfeld, que apelou para o bom senso ao assinalar que, no fim, "se deve comprar o que compraria como um consumidor normal".
Para Szeinfeld, adolescentes sem formação econômica podem superar em lucro os maiores gerentes financeiros do planeta em uma época na qual as bolsas do mundo estão caindo estrondosamente porque "os grandes investidores não parecem viver no mundo".
Younger também considera um grande êxito na aprendizagem dos seus alunos o fato de o dinheiro obtido ter sido doado a obras de caridade.
"É bom conhecer as finanças, mas quero que saibam que investir na bolsa é divertido, mas também um privilégio. É preciso saber que se obtém lucro porque fazemos parte de uma sociedade, e por isso é muito importante devolver a ela o lucro", apontou o professor.
Assim, a pedido dos alunos, o dinheiro será destinado à construção de um centro de assistência juvenil no interior do Uruguai.
Neste sentido, o ex-banqueiro apontou orgulhoso que, "se o caráter dos líderes financeiros do mundo tivesse sido o mesmo dos meus estudantes, nunca teria existido uma crise financeira como a de hoje em dia".
Quanto ao próprio Younger, os benefícios do projeto também não foram pequenos.
"Na realidade, aprendi muito mais com eles do que eles comigo", confessou. EFE