Montevidéu, 20 dez (EFE).- O Mercosul expressou nesta terça-feira seu apoio à Palestina com a assinatura de um tratado de livre-comércio, durante a 42ª cúpula de chefes de Estado do bloco, no que constitui o primeiro acordo deste tipo de um organismo de integração com os palestinos.
O acordo foi assinado em Montevidéu pelo ministro das Relações Exteriores palestino, Riyad al-Maliki, e pelos chanceleres dos quatro países-membros de pleno direito do bloco: Antonio Patriota (Brasil), Luis Almagro (Uruguai), Jorge Lara Castro (Paraguai) e Héctor Timerman (Argentina).
No evento, transmitido pelo circuito fechado de televisão da cúpula, também estavam presentes os presidentes das nações do bloco: Dilma Rousseff (Brasil), Cristina Kirchner (Argentina), José Mujica (Uruguai) e Fernando Lugo (Paraguai). Também compareceu ao evento o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e pelo chanceler do país, Ricardo Maduro.
Cristina Kirchner participou do evento apenas alguns minutos após receber a notícia da morte do subsecretário de Comércio Exterior de seu governo, Ivan Heyn, que tinha ido ao Uruguai para participar da reunião.
A assinatura do convênio foi considerada do lado palestino como um "triunfo" e uma clara mensagem de apoio a sua causa, mais que como um simples tratado comercial, disse à Agência Efe o ministro Maliki. "Este tratado se soma a todas as atividades de apoio à criação do Estado palestino que estão sendo dadas no mundo todo".
O Mercosul, quarto maior bloco comercial do mundo e o maior produtor de alimentos, "tem uma dimensão muito grande", declarou Maliki. "O fato de terem desejado assinar um tratado de livre-comércio conosco reflete seu apoio político. É uma vitória para nós".
O chanceler também se mostrou muito satisfeito pela rapidez das negociações do tratado, que duraram apenas um ano, o que, em sua opinião, reflete "o desejo do Mercosul de dar uma grande sinal pela Palestina". "Estamos orgulhosos de ter tantos amigos na região".
Quanto a sua aplicação comercial, Maliki assinalou que o governo palestino e os empresários desse território terão agora "que estudá-lo minuciosamente" para poder explorar suas possibilidades e determinar os produtos da Palestina que interessam os países do Mercosul e vice-versa.
O texto do tratado é uma cópia do convênio assinado entre Mercosul e Israel em 2007, que entrou em plena vigência neste ano, e representa mais um passo no apoio da região ao estabelecimento de um Estado palestino, depois de os quatro países do grupo o terem reconhecido como tal entre dezembro de 2010 e março deste ano.
Segundo dados da Associação Latino-Americana de Integração do período 2001-2010, as exportações do Mercosul à Palestina cresceram de US$ 103 mil em 2003 para US$ 1,7 milhão em 2010, enquanto as importações totais chegaram a US$ 92 mil - todas estas foram compras da Argentina em 2009.
Antes da assinatura do documento, o embaixador palestino na Argentina, Walid Muaqqat, informou à Efe que, na segunda-feira, durante o encontro de chanceleres e ministros da Economia do bloco no Conselho do Mercado Comum prévio à cúpula do Mercosul, Maliki agradeceu aos países do grupo pela ajuda e considerou-a "um grande apoio para a economia palestina".
O ministro palestino faltou também sobre a situação no Oriente Médio. Maliki disse que "Israel continua sendo o grande obstáculo da paz", pois, segundo ele, o Estado judaico continua "confiscando territórios palestinos e queimando mesquitas". Em sua opinião, "falta seriedade" a Israel "nas negociações para conseguir uma paz definitiva".
Segundo o embaixador Walid Muaqqat, na reunião desta segunda-feira, o ministro brasileiro Antonio Patriota pediu aos demais chanceleres do bloco que incluam na declaração final da cúpula a exigência de "um maior envolvimento" das nações do Mercosul no processo de paz Israel-Palestina.
"Ele pediu para acrescentar esse parágrafo e (seus colegas) aceitaram", destacou o embaixador, embora fontes diplomáticas uruguaias consultadas pela Efe não tenham confirmado a informação. EFE