Juan Lara.
Cidade do Vaticano, 9 dez (EFE).- O ano da beatificação de João Paulo II foi marcado pelas visitas do papa Bento XVI à Espanha, para presidir a Jornada Mundial da Juventude; à Alemanha, onde disse que a Igreja tem que se desprender de sua riqueza terrena e poder político; e a Benin, onde afirmou que a Aids é um problema "ético".
Desafiando o calor e as limitações físicas de um homem de 84 anos, Bento XVI viajou pela terceira vez à Espanha - país que mais o recebeu em seu Pontificado, junto com sua terra natal, a Alemanha -, onde se reuniu em Madri com dois milhões de jovens de todo o mundo.
Na considerada a maior concentração de católicos na Europa, Bento XVI pediu aos fiéis que "não tenham medo, nem complexos" de proclamar o que são, mas advertiu que "não é possível seguir Jesus sem seguir a Igreja".
Além disso, o papa encorajou os católicos a não sentir medo "em um entorno no qual se pretende excluir Deus, e no qual o poder, o ter e o prazer frequentemente são os principais critérios que regem a existência".
Bento XVI, cuja visita foi duramente criticada por grupos laicos, coletivos homossexuais e inclusive cristãos de base, criticou o relativismo que "despreza a busca da verdade" e insistiu mais uma vez em que o casamento é indissolúvel, e só é válido entre um homem e uma mulher.
O papa anunciou que o Rio de Janeiro será a sede da XXVII Jornada Mundial da Juventude, realizada em 2013, mas antes de visitar o Brasil pela segunda vez ele deve viajar ao México e a Cuba no próximo ano, a primeira vez que pisará nestes países.
Se em Madri pediu a radicalização dos jovens, na Alemanha Bento XVI fez discursos que entrarão para a história do Pontificado por sua dura autocrítica, nos quais disse que a Igreja necessita de uma "forte renovação", e deve se despojar de sua riqueza terrena e de seu poder político para abrir-se às preocupações do mundo.
Na terra do protestantismo, Ratzinger afirmou que há décadas acontece uma queda da prática religiosa e que a Igreja, ao invés de se abrir às preocupações do mundo, se acomoda e se posiciona como autossuficiente.
Bento XVI disse que os danos para a Igreja não vêm de seus adversários, "mas dos cristãos mornos" e assegurou que um agnóstico está mais próximo de Deus que os "fiéis de rotina que só veem na Igreja o boato, sem ficarem tocados pela fé". Por isso, ele convocou o Ano da Fé, que começará em 11 de outubro de 2012 e se estende até 24 de novembro de 2013.
Bento XVI voltou a se reunir com vítimas de abusos sexuais cometidos por clérigos na Alemanha, e suspendeu bispos envolvidos em casos na Irlanda, cujo Governo acusou o Vaticano de ter dificultado as investigações e fechou sua embaixada na Santa Sé.
Durante sua viagem à Alemanha, o papa elogiou Martinho Lutero (1483-1546) e disse que as perguntas que ele colocou sobre Deus devem se transformar "em uma pergunta nossa".
Pela segunda vez, Ratzinger viajou à África, nesta ocasião a Benin, onde pediu aos africanos que não tenham medo da modernidade, mas advertiu que não caiam na "submissão incondicional às forças do mercado ou das finanças".
O papa implorou por "justiça, paz e reconciliação" para esses povos, e defendeu que os responsáveis por crimes sejam postos nas mãos da justiça.
Em sua primeira visita à África, Bento XVI causou uma forte polêmica ao afirmar que a Aids não pode ser combatida com preservativos. Desta vez, ele disse que a pandemia exige uma resposta médica, mas que é sobretudo "um problema ético".
Em 2011, seis anos e um mês após sua morte e perante mais de um milhão de pessoas, João Paulo II (1920-2005) foi beatificado por seu sucessor, o que não acontecia há mil anos.
Na maior beatificação da história, Bento XVI disse que "a carga de esperança que se foi dada ao marxismo e à ideologia do progresso", Wojtyla reivindicou "legitimamente" para o Cristianismo. EFE