Miguel Ángel Mondelo.
Madri, 20 nov (EFE).- O futuro Governo do Partido Popular (PP) deverá lidar com uma difícil conjuntura econômica marcada pela crise da dívida, que levou Itália e Espanha a uma situação limite; com a fraqueza da economia espanhola, que se aproxima de outra recessão; e com o contínuo aumento do desemprego, que já roça os cinco milhões.
Neste complicado contexto, o Governo de Mariano Rajoy terá que cumprir com os compromissos de déficit pactuados com a União Europeia (UE) - 6% este ano, 4,4% em 2012 e 3% em 2013 -, o que, salvo um notável aumento das receitas fiscais, exigirá novos cortes no gasto público.
A margem de manobra do novo Governo será limitada porque a evolução da economia espanhola dependerá em grande medida das decisões que forem tomadas em Bruxelas, Frankfurt ou Berlim.
Segundo a maioria dos analistas, os mercados já absorveram a vitória do PP e, no máximo, esperam para ver a diferença de cadeiras. Em situações como a atual, os investidores preferem maiorias parlamentares nítidas, já que permitem formar Governos estáveis e com capacidade de atuação.
Os mercados esperam com expectativa que Rajoy concretize seus planos, especialmente como pretende cumprir os objetivos de déficit, uma das questões que mais incerteza geram entre os investidores.
Se a Espanha conseguir fechar este ano com um déficit de 6%, em 2012 o Governo do PP deverá cortar despesas ou aumentar receitas (ou uma mistura de ambos) no valor próximo a 18 bilhões de euros, um ajuste que os analistas veem como muito exigente.
O candidato do Partido Socialista (PSOE), Alfredo Pérez Rubalcaba, tinha levantado durante a campanha eleitoral a conveniência de pedir à UE que atrase em dois anos, de 2013 para 2015, o objetivo de reduzir o déficit público para 3%.
Um setor de especialistas - por exemplo, o economista-chefe do banco japonês Nomura, Richard Koo, ou o Prêmio Nobel Paul Krugman - considera que um ajuste rápido demais deprimirá ainda mais a economia, o que se traduzirá em mais desemprego, menos receitas fiscais e, finalmente, na impossibilidade de reduzir o déficit.
Durante a campanha, os dirigentes do PP se mostraram convencidos de que uma vitória clara de Rajoy devolverá a confiança na economia espanhola e, como consequência, relaxará a taxa de risco, o custo acrescentado que os investidores pedem para comprar dívida espanhola.
O diferencial entre o bônus espanhol a dez anos e o alemão com mesmo prazo rondou esta semana os 500 pontos básicos, um nível dificilmente sustentável de forma prolongada.
Vários economistas acham que para enfrentar esta situação não basta medidas de política interna, embora sejam necessárias, e consideram imprescindível uma intervenção decidida do Banco Central Europeu (BCE), à qual se opõe por enquanto a Alemanha.
No entanto, a compra em massa de bônus italianos e espanhóis no mercado secundário por parte do BCE seria apenas uma solução de emergência até que os países da zona do euro cheguem a um acordo para emitir eurobonos.
A economia espanhola estagnou no terceiro trimestre e, sem estímulos, é provável uma volta à recessão, o que aguçaria a queda de emprego.
O consumo privado continua fraco e os ajustes em autonomias e Prefeituras cortaram a contribuição do gasto público.
Além disso, o crédito continua sem fluir. O setor financeiro espanhol arrasta ainda a pesada digestão da bolha imobiliária e está imerso em um longo processo de reestruturação.
Um panorama complicado para o PP que, sem tempo para comemorar a vitória eleitoral, deverá enfrentar seu primeiro teste na segunda-feira mesmo, quando os mercados abrirem. EFE