Buenos Aires, 16 jan (EFE).- A presidente do Banco Central da Argentina, Mercedes Marcó del Pont, admitiu que existe "tensão" nos preços, mas rejeitou as recomendações para que o país "esfrie" a economia.
"Não podemos nos equivocar no diagnóstico na hora de resolver os problemas. A visão do ajuste também está no discurso internacional. Aos países da Europa pedem que sejam críveis, que ajustem, que reduzam o estado de bem-estar", afirmou Mercedes em entrevista publicada neste domingo pelo jornal "Página/12".
A presidente do Banco Central se posicionou contra os especialistas que aconselham desacelerar o crescimento para conter a inflação, que segundo o organismo oficial de estatísticas chegou a 10,9% em 2010, número que contrasta com o índice de 25% calculado por consultorias privadas.
"Temos que valorizar a autonomia que recuperamos nos últimos anos. Isto não significa desconhecer que existem problemas e que alguns preços aumentam mais do que o desejável", reconheceu a titular do Banco Central, que disse ter "uma visão muito distinta do que é o pensamento ortodoxo convencional".
"Para nós, as tensões (de preços) têm a ver com questões pelo lado da oferta, com o comportamento dos preços no mercado internacional", assinalou.
Mercedes assegurou ainda que a emissão de moeda "não gera inflação", depois que o Governo mandou imprimir no Brasil notas de 100 pesos por conta da falta de papéis, o que gerou queixas dos cidadãos e críticas da oposição.
"A falta de notas é um problema conjuntural que já está resolvido. Nas próximas semanas chegarão 3 bilhões de pesos (cerca de R$ 1,27 bilhão) em notas de 100 pesos (R$ 42,35)", antecipou a presidente da entidade, que na semana passada completou a recepção de 5 bilhões de pesos (aproximadamente R$ 2,12 bilhões) em notas de 100.
Economistas e políticos da oposição atribuíram à falta de planejamento do Governo de Cristina Fernández de Kirchner a escassez de notas, que prejudicou os pagamentos de aposentadorias e salários de funcionários públicos.
Para a titular do Banco Central, no entanto, "o crescimento econômico tem necessariamente como contrapartida uma maior demanda de dinheiro" e "nesse sentido a reconstrução do canal do crédito é fundamental", avaliou.
Mercedes também defendeu a estratégia de acúmulo de reservas para pagar dívidas, que no ano passado ocasionou uma forte controvérsia com a oposição e forçou a saída do presidente do Banco Central anterior, Martín Redrado, por sua rejeição à medida.
Ainda segundo Mercedes, nos últimos dois anos "a Argentina foi o único país da América Latina que não permitiu a valorização da taxa de câmbio", com o fim de beneficiar o setor industrial e as exportações do país, cuja atividade econômica cresceu 8,9% nos primeiros dez meses de 2010, segundo os últimos dados oficiais.
"Entre 2008 e 2010, a Argentina teve uma desvalorização nominal de 28%, enquanto no mesmo período predominaram os países cujas moedas foram apreciadas, como o Brasil, África do Sul, Chile, Indonésia e Colômbia", acrescentou.
O Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina cresceu 0,9% em 2009 depois de seis anos consecutivos de altas a uma taxa de 8% em média. EFE