Concha Carrón.
Madri, 30 abr (EFE).- Apesar dos integrantes da Seção de Monumentos - conhecidos como "Monuments Men", na Segunda Guerra Mundial - terem devolvido 5 milhões de obras de arte roubadas pelos nazistas, suas ações permaneceram esquecidas durante anos, um fato que começa a mudar graças a ajuda do filantropo Robert M. Edsel.
Ao dedicar sua vida à divulgação do legado destes "guerreiros da arte", o empresário petrolífero americano acaba de publicar "The Monuments Men", um curioso ensaio que narra a fascinante aventura destes heróis anônimos que impediram o espólio cultural nazista.
Estes soldados aliados, entre britânicos e norte-americanos, percorreram toda Europa para tentar recuperar os tesouros artísticos que Adolf Hitler sonhava em levar ao museu que seria criado em sua cidade natal, Linz (Áustria), e que nunca chegou a ser construído. Neste, o líder nazista queria reunir as coleções de arte roubadas pelos nazistas durante todo o conflito bélico.
Antes da construção do museu, o "Führer" mandou levar todas as obras expropriadas de diferentes museus europeus para um lugar "seguro": uma caverna de sal escavada na localidade de Altaussee, um remoto lugar a 150 quilômetros de Linz.
A mina, cavada na encosta de uma rocha, era o lugar ideal para guardar as obras porque o sal das paredes absorvia o excesso de umidade e ajudava, junto com sua temperatura constante, a conservar as pinturas, enquanto os objetos metálicos, como as armaduras, ficavam protegidos da corrosão com uma fina camada de gordura.
Segundo Edsel, entre 1939 e 1945, este improvisado armazém subterrâneo recebeu obras de arte mundialmente conhecidas, como A Madona de Bruges, de Michelangelo; o retábulo de Gand, de Jan Van Eyck; "A Ronda Noturna", de Rembrandt; "Dama do Arminho", de Da Vinci, e um dos quadros preferidos de Hitler, "O astrônomo", de Johannes Vermeer.
No entanto, esta história só é conhecida atualmente graças ao trabalho de Robert M. Edsel (1956), que recebeu em 2007 a medalha nacional de Humanidades dos Estados Unidos por seu trabalho de divulgação do legado dos "Monuments Men".
Edsel também criou uma Fundação que leva o nome dos "Monuments Men" e é o autor de um documentário sobre o espólio nazista e da obra "Rescuing Da Vinci", um repasse ao ocorrido com a arte durante o conflito bélico através de fotografias da época.
O árduo trabalho realizado por 350 pessoas de 13 países diferentes, entre 1943 e 1951, está retratado na seção de Monumentos, Belas Artes e Arquivos (MFAA) no livro de Edsel, assim como o esforço destes heróis para recuperar, catalogar e devolver as peças ao seu legítimo lugar.
Em sua obra, o escritor resgata esse episódio de valor incalculável com diálogos dos protagonistas, cartas íntimas, documentos oficiais e a narração das batalhas.
De acordo com as pesquisas de Edsel, sabe-se que no verão de 1943 cerca de 500 obras de professores modernos, como Klee, Miró, Max Ernst e Picasso - considerados "degenerados" pelos nazistas por sua maneira de representar o mundo -, foram rasgadas com uma faca e depois queimadas até sua total destruição.
Além disso, o livro também nos apresenta personagens que até agora eram desconhecidos, como Jacques Jaujard, diretor dos museus nacionais da França, e o soldado Harry Ettlinger, um judeu alemão que aparece em uma foto do livro com a obra "Autorretrato", de Rembrandt.
O trabalho desenvolvido por Edsel é tão surpreendente que George Clooney já anunciou que deverá adaptar esse ensaio ao cinema, onde sua trama pode ser muito bem explorada. EFE