Arena do Pavini - O dólar está barato nos níveis atuais e pode chegar a R$ 4,90 ou R$ 5,30, refletindo a alta dos juros nos Estados Unidos, que ameaçam atingir 6% ao ano por conta do superaquecimento da economia, e a situação caótica do Brasil, que obrigará o Banco Central a subir a Selic ainda este ano. Os cometários são do sócio fundador da gestora SPX Investimentos, Rogério Xavier, ao participar de um evento organizado pelo banco BTG Pactual (SA:BPAC11). A SPX é uma das maiores gestoras de fundos multimercados do país. Segundo ele, o juro prefixado no Brasil está muito baixo e a soma do déficit fiscal com o déficit externo de contas correntes deixam o país vulnerável à turbulência externa.
Xavier, um dos mais respeitados gestores de recursos do mercado, diz que a situação do mercado brasileiro é complicada pois o cenário externo está contra nós e cenário interno é reflexo dos “nossos próprios erros”. A economia americana, diz o gestor, caminha para o superaquecimento, com crescimento de 2,9% acima do potencial que permite ao país crescer sem inflação. O nível de déficit fiscal americano é inédito para o estágio atual do ciclo de crescimento, muito alto para um desemprego tão baixo, em situação de quase pleno emprego. Por isso, a inflação está surgindo e já é possível ver sinais do superaquecimento nos salários e nos custos de produção.
Para completar, as tarifas de importação impostas por Donald Trump devem pressionar ainda mais a inflação. Enquanto isso, as condições de política monetária seguem frouxas, mesmo com as altas dos juros recentes pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano). Xavier lembra que todos os episódios de recessão nos Estados Unidos aconteceram após altas de juros. E atualmente os juros básicos nos EUA, de 1% ao ano, estão 0,9% abaixo do nível que seria considerado neutro para o crescimento da economia.Ainda teria, portanto, muito espaço para subir.
E ainda há o balanço do Fed, ou seja, os incentivos que o banco central americano deu ao mercado recomprando títulos dos bancos, e que ele vai começar a recolher vendendo os papéis de volta. Isso provocará um forte enxugamento da liquidez mundial. Com isso, o juro nos Estados Unidos devem explodir e a taxa dos títulos de 10 anos do Tesouro americano, que hoje estão abaixo de 3% ao ano, podem chegar a 6% ao ano. “É uma boa oportunidade de fazer posições tomadas em taxas de juros nos EUA, mas consequentemente, o Brasil vai sofrer”, diz.
Já sobre o Brasil, Xavier classifica a situação do país como caótica. “O governo acabou de financiar terroristas”, diz, numa referência às concessões feitas aos caminhoneiros que pararam o país e obrigaram o governo a subsidiar o diesel e tabelar os preços dos fretes.
A SPX projeta 0.8% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, bem abaixo dos 2% do mercado. O hiato do produto, que é quanto de capacidade ociosa o país ainda tem para crescer sem pressionar a inflação, ainda é elevado e a inflação não deve ser muito pressionada, afirma Xavier, mas o melhor momento ficou para trás. O IPCA deve ser de 3.7% no fim deste ano. Mas a dívida bruta do governo está crescendo de maneira acelerada e precisa de uma solução. “Se nada for feito em relação à Previdência, vamos caminhar para insolvência”, diz.
O quadro se agrava pois a eleição presidencial está totalmente indefinida. As pessoas, diz Xavier, estão contra tudo e contra todos e a chance de cair num extremo é enorme. “As pessoas atribuem a falta de recursos à corrupção e não a um problema estrutural da economia”, observa. Com isso, o populismo vai ganhar apoio muito forte e qualquer candidato indicado pelo ex-presidente Lula vai sair com grande vantagem. O Congresso, por sua vez, deve ter maioria de centro direita, e se um candidato pró reformas ganhar vai ter apoio, acredita Xavier. O problema é que o Congresso está cada vez mais fragmentado e exige grande capacidade de negociação do presidente.
Com esse cenário, Xavier estima que o dólar comercial podem chegar a R$ 4,90-R$ 5,30 nos próximos meses. “O câmbio hoje está de graça”, resume. No mercado de juros, as taxas prefixadas também estão muito baixas e não altas como muitos estão pensando. “Falar em prêmio na curva de juros longos brasileira é piada”, afirma. Segundo Xavier, em breve, o Banco Central vai ter de subir os juros básicos brasileiros para conter a situação.
Por Arena do Pavini