Gaspar Ruiz-Canela.
Bangcoc, 9 fev (EFE).- Mais de 60 mil noviços foram ordenados
recentemente em cerimônia para evitar a queda do budismo na
Tailândia, onde o número de vocações religiosas despencou
drasticamente devido ao consumismo e hedonismo próprios da
modernidade.
Na cerimônia que ocorreu no centro da Fundação Dhammakaya, um
enorme complexo religioso construído sobre 400 hectares e situado a
42 quilômetros ao norte de Bangcoc, participaram 330 templos do
país.
"Antigamente, todos os tailandeses eram ordenados noviços por
três meses para aprender os preceitos do budismo, mas hoje muitos
jovens não seguem a tradição e se envolvem com bebidas e maus
hábitos", explicou à Agência Efe Prah Sanitwong, diretor de
comunicação da fundação.
O objetivo da cerimônia era conseguir a ordenação de 100 mil
noviços, mas o número não foi atingido, apesar dos esforços dos
organizadores.
Nos próximos dias, os 60 mil participantes que durante meses
cumpriram uma rotina austera dedicada à meditação e ao estudo
decidirão se retomam suas vidas ou dão o passo definitivo para se
transformarem em monges.
Os neófitos, vestidos com as túnicas de cor açafrão, descalços e
com a cabeça e as sobrancelhas raspadas, participaram de diversos
ritos durante 12 horas.
Para receber as bênçãos ao final da cerimônia, os noviços
desfilaram ordenadamente até ocupar metade da praça em torno de
Dhammakaya, uma monumental construção em forma de disco e com uma
cúpula dourada onde estão relíquias de Buda.
Tailândia, com uma população de mais de 60 milhões de pessoas,
conta com 300 mil monges da escola Theravada, a principal corrente
budista no país.
Mais de 6 mil dos 34 mil templos do país estão desocupados pela
falta de religiosos.
"A função dos monges é importante para preservar a coesão da
comunidade e os valores budistas que estruturam a sociedade
tailandesa", explicou Sanitwong.
A esperança do monge tailandês é que este tipo de cerimônia, que
voltará a ser realizada em junho, sirva para chamar mais jovens à
vocação religiosa.
Entre os noviços havia um americano e um britânico, que como
muitos estrangeiros ocidentais encontraram no budismo uma nova forma
de vida.
"Eu era católico, mas comecei a praticar a meditação no centro
que a Fundação Dhammakaya tem na Califórnia e fui me envolvendo mais
até que decidi me converter, o que me tornou uma pessoa melhor",
afirmou o americano Rollan Knudson.
"Após graduar-me na universidade, me dediquei ao cinema
independente na Espanha e depois iniciei no mundo dos negócios, mas
tinha abanado o lado espiritual", sustentou Knudson.
Outro participante da cerimônia, Gan-Ochir, da Mongólia, disse
que sua intenção é, após quatro anos de vida monástica, ordenar-se
monge e voltar a seu país para ajudar a construir uma sociedade mais
justa.
"Passei dois anos no Tibete, onde praticava o budismo Mahayana,
mas ali não existia tanta disciplina no estudo como nos templos
tailandeses e misturavam a religião com crenças mágicas",
sentenciou.
Alguns setores da sociedade tailandesa defendem a ordenação
superior das mulheres para resolver o problema de carência de
religiosos.
Para elas, é permitido um tipo e ordenação menor, na qual podem
levar uma vida monástica, vestem hábitos brancos e até raspam a
cabeça e as sobrancelha, mas não podem ensinar doutrina ou coordenar
rituais.
"Esse é outro debate, a tradição freiras de ordenação superior
foi extinta na Tailândia há muito tempo", concluiu Sanitwong. EFE