Luis Alonso.
Madri, 1 nov (EFE).- A União Europeia (UE) apresentará na cúpula do Grupo dos Vinte (G20, que reúne os países ricos e os principais emergentes) em Cannes sua solução para a crise do euro, que durante muito tempo foi reivindicada por seus parceiros para proteger o sistema financeiro internacional.
Os líderes europeus aprovaram na madrugada da quinta-feira passada um plano contra a crise do euro baseado em três pilares: a recapitalização bancária com 106 bilhões de euros, o perdão de 50% dívida grega e a ampliação do fundo de resgate europeu para até um trilhão de euros.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, afirmou que eram "medidas excepcionais para tempos excepcionais" e demonstrou sua satisfação pelo fato de a UE apresentar na cúpula de Cannes seu "Mapa do Caminho" para sair da crise.
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, que também preside o G20 este ano, declarou que a resposta europeia à crise do euro era "crível e ambiciosa" e deve "aliviar todos que esperavam uma decisão contundente da zona do euro".
Barroso e Sarkozy responderam assim as declarações de inquietação realizadas nos últimos tempos pelos parceiros da UE no G20 - os EUA chegaram a apontar a crise da eurozona como "o maior risco para a recuperação global".
Porém, já com um acordo debaixo do braço, os líderes europeus que estarão em Cannes (UE, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Espanha como país convidado permanente) poderão se concentrar em outros aspectos da agenda que a crise da zona do euro tenha ofuscado.
De acordo com a UE, em Cannes o G20 deve "conseguir avanços" em pontos fundamentais: a recuperação econômica global, a reforma do sistema monetário internacional, a regulação e supervisão do setor financeiro, a volatilidade excessiva dos preços das matérias-primas, a liberalização do comércio internacional e a luta contra a mudança climática.
"É necessário atuar com determinação para manter a estabilidade financeira, restabelecer a confiança e apoiar o crescimento e a criação de emprego", frisou a UE, reivindicando "compromissos específicos de todos os países do G20".
Na carta enviada por Barroso e pelo presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, a seus parceiros do G20, os dois se comprometem a aplicar "de forma rigorosa e oportuna" as medidas para reforçar o euro, mas advertem que estas "por si sós" não podem garantir a recuperação econômica mundial.
Dentro da reforma do sistema financeiro internacional, a UE quer que o G20 garanta que o FMI conta com recursos adequados para cumprir suas responsabilidades, por isso seria preciso explorar, segundo sua opinião, a possibilidade de maiores contribuições ao fundo de apoio de países com grandes superávits externos.
A UE também mostrou seu interesse em enfrentar o desafio da segurança alimentar "dotando com maior transparência os mercados de matérias-primas" e fomentar a recuperação mundial "apoiando um programa ativo de negociação" na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Quando se trata da regulação do setor financeiro, a UE se refere à luta contra os paraísos fiscais, na "redução do excesso de dependência das qualificações creditícias" e, principalmente, à introdução de um imposto mundial sobre transações financeiras.
A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou que fará essa proposta e o mesmo foi dito por Sarkozy. A Espanha, como declarou em Paris a ministra da Economia, Elena Salgado, também acredita que "é uma boa ideia e faz todo o sentido".
Sarkozy reconheceu que o consenso internacional é difícil e por isso apostou em constituir "um grupo de países líderes" que convença a opinião pública internacional, ideia apoiada por Merkel em discurso perante o Bundestag (Parlamento alemão) na quarta-feira passada.
Por outro lado, o Reino Unido já mostrou seu desacordo por uma medida que, se for aplicada apenas na UE e não em nível global, prejudicaria os interesses econômicos de Londres.
Segundo cálculos da Comissão Europeia, nos últimos três anos os contribuintes europeus concederam ajudas e garantias ao setor financeiro no valor de US$ 4,6 trilhões e por isso acredita que "chegou o momento que o setor financeiro contribua". EFE