Rafael Cañas.
Luxemburgo, 26 out (EFE).- A União Europeia (UE) não espera
conseguir a ratificação tcheca ao Tratado de Lisboa ainda nesta
semana, o que faz com que a cúpula comunitária de quinta-feira e
sexta-feira provavelmente não leve a uma decisão sobre a nomeação de
novos responsáveis pelo bloco.
Os ministros de Assuntos Exteriores da UE prepararam hoje em
Luxemburgo o Conselho Europeu dos dias 29 e 30 com os olhos em
Praga, onde o Tribunal Constitucional tcheco deve anunciar amanhã
quando se pronunciará sobre a admissão para trâmite do recurso
contra o Tratado de Lisboa apresentado por um grupo de senadores
conservadores.
Tal decisão é esperada para a próxima semana. Por isso, o máximo
que pode acontecer na conversa dos líderes comunitários no jantar de
quinta-feira é algum tipo de discussão preliminar sobre as
nomeações, cujo alcance estaria atrelado ao tom adotado pela Justiça
tcheca amanhã, apontam fontes comunitárias.
A questão tcheca deixou pendente o anunciado entendimento - cujo
conteúdo se desconhece - entre a Presidência temporária sueca da UE
e o presidente tcheco, Vaclav Klaus, para garantir a assinatura
deste no Tratado de Lisboa.
A República Tcheca é o último país da UE que ainda não aderiu ao
acordo.
"Tudo está parado" até que haja uma decisão favorável em Praga,
diz uma fonte do bloco, que insiste em que não se quer dar a
impressão de que a UE cederá a Klaus para depois receber uma notícia
desagradável da Justiça tcheca.
A ministra de Assuntos Europeus sueca, Cecilia Mallström,
destacou hoje que o Tribunal Constitucional tcheco não terá uma
decisão "até depois da cúpula".
De qualquer forma, ficou claro hoje que a Eslováquia quer as
mesmas concessões que a vizinha República Tcheca obtiver. Segundo
fontes da UE, estas devem corresponder a uma isenção da Carta de
Direitos Fundamentais do bloco.
Polônia e Reino Unido já obtiveram uma isenção similar durante as
negociações do Tratado. Por isso, bastaria agora acrescentar
República Tcheca e Eslováquia a essa menção, o que evitaria o
desconforto de ter que renegociar o texto.
A preocupação do presidente tcheco, que ameaçava bloquear a
aprovação do Tratado, é que a aplicação dessa Carta possa
impulsionar reivindicações dos cidadãos de origem alemã expulsos da
antiga região tchecoeslovaca dos Sudetos após a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945) pelos chamados "decretos de Benes".
"Isto é algo que, certamente, é muito sensível na Eslováquia",
admitiu Malmström, embora tenha insistido em que a Carta de Direitos
Fundamentais da UE não tem retroatividade.
A ministra sueca deixou claro que, perante a falta de precisão
sobre a ratificação do Tratado, a discussão acerca dos futuros
nomeações "não começou ainda".
Assim, diferentes fontes concordam que as nomeações do futuro
presidente da UE e do novo responsável de política externa podem ser
decididos em uma cúpula extraordinária no mês de novembro.
Apesar de o debate ser ainda muito preliminar, vários ministros
de Assuntos Exteriores da UE se pronunciaram a favor de que os dois
cargos sejam concedidos a personalidades políticas "fortes".
Os ministros de Reino Unido, Espanha e Finlândia foram alguns dos
que se manifestaram neste sentido, a fim de dotar a União de uma voz
forte que ponha a Europa no mesmo nível internacional que Estados
Unidos e China, por exemplo.
Para facilitar essa tarefa, o Conselho de Ministros aprovou hoje
os princípios do futuro serviço europeu de ação externa (SEAE),
instrumento em torno do qual se construirá uma autêntica diplomacia
comum da UE e que terá início no primeiro semestre do ano que vem,
quando a Espanha assumirá a Presidência temporária do bloco.
Entre os citados como primeiro presidente estável da UE estão o
ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair; o atual chefe de
Governo holandês, Jan Peter Balkenende; a presidente da Finlândia,
Tarja Halonen; o ex-chefe de Estado desse país Martti Ahtisaari,
Prêmio Nobel da Paz 2008; e o ex-presidente do Governo espanhol
Felipe González. EFE