Mario Villar.
Estocolmo, 18 nov (EFE).- A União Europeia (UE) e a Rússia
deixaram hoje de lado as diferenças e uniram esforços para avançar
em algumas das prioridades comuns, como à luta contra a mudança
climática e os incentivos ao crescimento do comércio.
Realizada em Estocolmo, a 24ª cúpula UE-Rússia foi marcada pelo
pragmatismo das duas partes decididas a obter resultados tangíveis,
apesar de vários assuntos, como a ameaça de uma nova crise do gás e
a situação dos direitos humanos na Rússia, ainda continuarem
abalando as relações.
O presidente russo, Dmitri Medvedev, classificou o diálogo de
"construtivo" e afirmou que desta vez não se permitiu "nenhum tipo
de emoção atrapalhar a cooperação".
Para surpresa geral, a poucas semanas da cúpula sobre o clima de
Copenhague, a Rússia respondeu em Estocolmo aos apelos de Bruxelas e
se comprometeu a ser mais ambiciosa na luta contra a mudança
climática.
Segundo explicou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel
Durão Barroso, Medvedev aceitou nesta quarta-feira cortar as
emissões de dióxido de carbono do país em até 25% com relação aos
níveis de 1990.
Bruxelas chegava à cúpula com a intenção de dar um empurrão às
negociações internacionais, por isso que Barroso considerou a
mensagem de Moscou "muito promissora", com possibilidade de
conseguir um acordo que permita a temperatura não aumentar acima de
dois graus centígrados.
Além disso, Medvedev afirmou que, da mesma forma que a UE, a
Rússia tem o "objetivo de convencer os colegas de outros países a
serem mais sérios", em referência às ofertas de cortes de emissões
de outras potências, que Bruxelas considera insuficientes.
Para o primeiro-ministro sueco e presidente rotativo da UE,
Fredrik Reinfeldt, a proposta russa é "importante para o acordo em
Copenhague" e "importante por si só", pois se trata de um dos países
que mais emitem dióxido de carbono à atmosfera.
A unidade com relação à mudança climática ocorreu também no
âmbito comercial, no qual as duas partes apostaram por uma entrada
rápida da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC).
A Europa respaldou mais uma vez o processo de adesão russo,
enquanto Medvedev tratou de tranqüilizar os líderes comunitários
sobre a união aduaneira da Rússia com Belarus e Cazaquistão, que
entrará em vigor em janeiro.
O pacto preocupava a Europa pelos atrasos que poderia gerar na
integração da Rússia à OMC, mas hoje o presidente russo deixou claro
que sua prioridade é o ingresso e garantiu que não aumentará tarifas
para os produtos europeus.
Para europeus e russos, a cúpula de hoje representou também um
passo adiante nas negociações para renovar o acordo pelo qual são
regidas as relações, de 1997, e alinhavou as bases de um grande
pacto para o desenvolvimento econômico.
Essa ampla iniciativa, proposta por Barroso após escutar os
discursos modernizadores de Medvedev e aceito pelo presidente russo,
incluiria desde a troca de tecnologias e intercâmbios estudantis até
facilidades para as empresas, passando pela eliminação dos vistos
para as viagens de curta duração.
Rússia e a UE, que cooperam atualmente em missões internacionais
como a que combate a pirataria no Índico, concordaram também com um
marco formal para coordenar os projetos, destacou o chefe da
diplomacia comunitária, Javier Solana.
Na maior parte do tempo, a cúpula passou praticamente pisando em
ovos sobre as principais tensões entre as duas partes. Reinfeldt,
entretanto, ressaltou em entrevista coletiva que a situação dos
direitos humanos na Rússia é uma "fonte de preocupação crescente".
O presidente russo respondeu simplesmente que Moscou e a UE
mantêm "diferenças" neste campo e defendeu que é possível "acertar
posturas".
O âmbito energético, outro ponto de conflito, passou praticamente
despercebido, depois que na segunda-feira foi acordado a criação de
um sistema de alarme para tentar prevenir uma nova crise do gás como
a que deixou vários países europeus sem abastecimento em janeiro.
EFE