Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que antevê problemas no ano que vem se não for aprovado o voto impresso auditável para as eleições presidenciais, e disse que não entregará a faixa a um sucessor em caso de suspeita de fraude.
Bolsonaro, que fez da defesa do voto auditável uma de suas principais bandeiras, reforçou o discurso em sua transmissão semanal ao vivo pelas redes sociais e disse que faz não uma ameaça, mas um alerta, caso seja mantido o atual sistema de votação no pleito do ano que vem. Segundo ele, o "povo não vai admitir".
"Eu entrego a faixa presidencial para qualquer um que ganhar de mim na urna de forma limpa. Na fraude, não", disse o presidente.
"Vamos para o voto auditável. Esse voto ´mandrake´ aí... não vai dar certo. Vamos ter convulsão no Brasil. Nós vamos ter um problema seríssimo no Brasil. Eu estou fazendo de tudo, avisando com antecedência, para evitar isso aí", acrescentou.
Bolsonaro fez referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aparece na liderança das pesquisas de intenção de voto no momento, como um suposto beneficário de fraudes.
"Tiraram o ladrão da cadeia. Tornaram o ladrão elegível, no meu entender, para ser presidente, sim, mas na fraude. Porque no voto ele não ganha, não ganha de ninguém, então não vou admitir um sistema fraudável de eleições", disse.
O presidente reafirmou que não haverá problemas orçamentários para a execução do voto impresso, caso a modalidade seja autorizada pelo Congresso Nacional.
No entanto, Apesar de referir-se ao Parlamento como aliado, o presidente pode encarar uma negativa de deputados e senadores. Dirigentes do 11 partidos políticos, aliás, já manifestaram posicionamento em defesa das urnas eletrônicas.
Bolsonaro acusou o Judiciário de interferir em outro Poder, tendo em mãos reportagem sobre reunião de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) com dirigentes de partidos políticos.
"Não é convencimento isso daqui, é quase uma imposição", disse. "Não podemos aceitar isso aqui, essa interferência deslavada no Legislativo."
O presidente insinuou, ainda, que suas declarações em defesa do voto auditável tenham motivado decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes que abriu nova apuração contra bolsonaristas, dessa vez sobre organização criminosa que estaria por trás da disseminação de fake news. Dentre os investigados, estão duas deputadas e dois filhos do chefe do Executivo, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
"É uma covardia o que estão fazendo, Alexandre de Moraes, é uma covardia. Será que é um troco porque eu falei sobre voto auditável hoje de manhã?", insinuou.
Em outro momento, o presidente foi mais direto e disse que "como retaliação, com toda certeza, o senhor Alexandre de Moraes manda investigar organização criminosa: duas deputadas e o Flávio, meu filho senador, e o Carlos também".
Constantemente Bolsonaro coloca em dúvida a lisura da votação eletrônica no Brasil, que o elegeu deputado por várias vezes e presidente em 2018. Ele chegou a afirmar ter provas de fraude na eleição daquele ano, alegando que teria vencido o pleito no primeiro turno, e, apesar de dizer que apresentaria essas alegadas evidências, nunca o fez.
Apesar das acusações constantes de Bolsonaro contra o sistema de votação, desde a adoção da urna eletrônica, em 1996, nunca foi comprovada qualquer fraude nas eleições realizadas desde então. Além disso, também ao contrário do que frequentemente afirma o presidente, a votação eletrônica é sim auditável, conforme já esclareceu por diversas a Justiça Eleitoral.