Por Pedro Fonseca
(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar, nesta quinta-feira, o sistema eleitoral brasileiro e disse duvidar da segurança do processo de votação eletrônica, sugerindo que diferentes órgãos, como a Polícia Federal e a Ordem dos Advogados do Brasil, além das Forças Armadas, possam contabilizar os votos junto com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"Eu duvido desse sistema eleitoral, é um direito meu duvidar", disse Bolsonaro em sua transmissão semanal ao vivo pelas redes sociais, voltando a levantar dúvidas --sem apresentar evidências-- de possíveis fraudes em eleições passadas.
Bolsonaro, que se elegeu presidente em 2018 e deputado diversas vezes em eleições anteriores pelo sistema de voto eletrônico, tem feito ataques constantes aos ministros do TSE Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes, que também pertencem ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro acusa, sem apresentar provas, os três magistrados de terem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato preferencial na eleição presidencial de outubro. Lula (PT) lidera as pesquisas de intenção de voto à frente de Bolsonaro (PL) e alguns levantamentos apontam até mesmo uma possível vitória no primeiro turno.
Bolsonaro já chegou a afirmar que não irá aceitar o resultado de uma eleição que não considere justa.
Depois de sugerir inicialmente que as Forças Armadas tivessem acesso ao sistema de votação para realizar uma apuração própria dos votos, o presidente agora sugeriu que entidades como a Polícia Federal, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Controladoria-Geral da República (CGU) e universidades também possam fazer suas apurações paralelas.
Apesar das falas do presidente acusando o TSE de fazer a apuração em uma "sala secreta", a corte eleitoral já esclareceu diversas vezes que a totalização dos votos é um ato público.
Em tom de ameaça, Bolsonaro disse que "ninguém quer invadir nada", mas que sabe o que "temos que fazer antes das eleições". Antes, criticou o presidente do TSE, Edson Fachin, por ter afirmado na véspera que há risco de o Brasil passar por um evento mais grave do que a invasão ao Capitólio de Washington, ocorrido em 6 de janeiro do ano passado, quando partidários do então presidente derrotado dos EUA, Donald Trump, invadiram as dependências do Congresso para tentar impedir a certificação da vitória de Joe Biden.
Bolsonaro também disse que irá convidar todos os embaixadores estrangeiros no Brasil para mostrar na próxima semana "o que aconteceu" nas eleições de 2014, 2018 e 2020, insinuando que seriam problemas que, segundo ele, estarão devidamente documentados.