Desmatamento na Amazônia bate recorde no primeiro semestre de 2022

Publicado 08.07.2022, 12:51
Atualizado 08.07.2022, 19:50
© Reuters. 28/09/2021
REUTERS/Adriano Machado

Por Jake Spring e Bruno Kelly

SÃO PAULO/MANAUS (Reuters) - O desmatamento na floresta amazônica brasileira atingiu um recorde nos primeiros seis meses do ano, quando uma área maior que três vezes o município do Rio de Janeiro foi destruída, mostraram dados preliminares do governo nesta sexta-feira.

De janeiro a junho, 3.988 quilômetros quadrados foram desmatados na região, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Isso representa um aumento de 10,6% em relação aos mesmos meses do ano passado e o nível mais alto para esse período desde que a agência começou a compilar sua atual série de dados Deter-B em meados de 2015.

A destruição cresceu 5,5% em junho, para 1.120 quilômetros quadrados, também um recorde para o mês.

A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, contém grandes quantidades de carbono, que é liberado à medida que as árvores são destruídas, aquecendo a atmosfera e provocando mudanças climáticas.

O desmatamento está ocorrendo cada vez mais fundo na floresta. Nos primeiros seis meses do ano, o Estado do Amazonas, no coração da floresta tropical, registrou mais destruição do que qualquer outro Estado pela primeira vez.

Uma testemunha da Reuters viu nesta sexta-feira vários locais recentemente desmatados perto de uma rodovia a oeste de Manaus, onde a floresta exuberante foi transformada em áreas repletas de árvores secas e derrubadas.

O desmatamento crescente deste ano também está alimentando níveis excepcionalmente altos de focos de incêndio, que provavelmente piorarão nos próximos meses, disse Manoela Machado, pesquisadora de incêndios florestais e desmatamento da Universidade de Oxford e do Woodwell Climate Research Center.

O Brasil registrou o maior número de focos de incêndios na Amazônia no mês de junho em 15 anos, embora esses focos sejam uma pequena fração do que geralmente é visto quando atingem o pico em agosto e setembro, segundo dados do Inpe.

Normalmente, depois que a madeira é extraída, fazendeiros e grileiros queimam a terra para terminar de desmatá-la para a agricultura.

“Se tivermos altos números de desmatamento, é inevitável que também tenhamos altos números de incêndios”, afirmou a pesquisadora. "Esta é uma notícia extremamente ruim."

Ativistas e especialistas no Brasil culpam o presidente Jair Bolsonaro (PL) por reverter as proteções ambientais e encorajar madeireiros, fazendeiros e especuladores de terras que desmatam terras públicas com fins lucrativos.

O Palácio do Planalto encaminhou um pedido de comentário para o Ministério do Meio Ambiente, que disse que o governo tem sido "extremamente contundente" no combate aos crimes ambientais.

O ministério disse que, considerando os 12 meses até junho, os dados do Inpe mostraram que o desmatamento caiu 3,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Ambientalistas estão apostando na vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de outubro para uma reviravolta na política ambiental do país.

Mas este ano provavelmente terá altos níveis de desmatamento e focos de incêndios de qualquer maneira, já que madeireiros e grileiros buscam capitalizar a fraca fiscalização antes de uma possível mudança no governo, segundo especialistas.

© Reuters. 28/09/2021
REUTERS/Adriano Machado

À medida que o clima fica mais seco e mais quente na Amazônia, o desmatamento e as queimadas não dão sinais de diminuir.

“É bem difícil ser otimista para os próximos meses da Amazônia”, disse Rômulo Batista, ativista florestal do Greenpeace Brasil.

((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447702)) REUTERS AC PF

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