BRASÍLIA (Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira achar que a revelação de planos de uma organização criminosa para atacar o senador Sergio Moro (União-PR) e outras autoridades sejam, na verdade, uma "armação" do parlamentar, que antes de entrar na política foi juiz de processos contra o petista no âmbito da operação Lava Jato.
"Eu não vou falar, porque eu acho que é mais uma armação do Moro. Mas eu quero ser cauteloso, eu vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro", disse Lula a jornalistas ao ser perguntado sobre o tema durante visita ao Complexo Naval de Itaguaí, no Rio de Janeiro.
"Eu acho que é mais uma armação, e se for mais uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda. Eu não sei o que ele vai fazer da vida se ele continuar mentindo do jeito que está mentindo. Mas também o Moro não é a minha preocupação", acrescentou o presidente.
A Polícia Federal deflagrou operação na quarta-feira para desarticular uma organização criminosa que planejava realizar ataques, como homicídios e extorsão mediante sequestro, contra Moro e outras autoridades públicas.
Lula se disse disposto a "pesquisar" sobre o caso envolvendo o senador, mas questionou o fato de a juíza Gabriela Hardt, substituta de Moro na operação Lava Jato, ter sido a responsável pela autorização da operação da PF na quarta-feira.
"Até fiquei sabendo que a juíza não estava em atividade quando deu o parecer para ele. Mas isso a gente vai esperar. Eu não vou ficar atacando ninguém sem ter provas", disse.
Após as declarações do presidente, Moro negou se tratar de uma armação e cobrou uma retratação, especialmente irritado com sorriso dado por Lula antes de responder à imprensa o que achava da operação da PF.
"Agora, eu nunca imaginei que eu veria um presidente da República rindo de uma ameaça do crime organizado à minha pessoa ou à minha família. Por isso eu digo mais uma vez: o senhor não tem decência? O senhor não tem decência?", declarou o senador em entrevista à CNN Brasil.
"Gostaria de ouvir no mínimo, no mínimo, uma retratação", acrescentou.
O parlamentar sugeriu que o presidente poderia estar incorrendo em crime de responsabilidade e teria, por conta dessa declaração, colocado a família de Moro em "vulnerabilidade". Para o senador, Lula teria incentivado a violência contra ele e sua família.
Responsável pela condenação de Lula no caso do tríplex do Guarujá (SP), que levou o petista a cumprir pena de detenção em Curitiba por 580 dias, e ainda que negasse qualquer pretensão política, Moro deixou o comando da Lava Jato em Curitiba para assumir o cargo de ministro da Justiça no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
À frente da 13ª Vara, a juíza Gabriela Hardt foi a responsável por condenação de Lula em um processo sobre um sítio em Atibaia (SP), em que teria, inclusive, copiado e colado trechos de decisão de Moro no caso do triplex.
Posteriormente o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as condenações de Lula. Em outra decisão, a corte declarou a suspeição de Moro.
(Reportagem de Maria Carolina MarcelloEdição de Alexandre Caverni e Pedro Fonseca)