Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciou nesta quarta-feira que pediu demissão do cargo, em meio a críticas sobre a política ambiental do país e investigações sobre sua conduta à frente da pasta.
"Eu entendo que o Brasil, ao longo desse ano e no ano que vem, na inserção internacional e também na agenda nacional, precisa ter uma união muito forte de interesses e de anseios e de esforços. E para que isso se faça da maneira mais serena possível, apresentei ao senhor presidente (da República) o meu pedido de exoneração, que foi atendido", disse Salles em declaração no Palácio do Planalto.
Joaquim Álvaro Pereira Leite, que comandava a Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais do ministério, foi nomeado para exercer o cargo de ministro no lugar de Salles, de acordo com edição extra do Diário Oficial da União. Leite foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB) de 1996 a 2019.
Em seu pronunciamento, o agora ex-ministro disse ter experimentado, à frente da pasta, muitas contestações a ações tomadas ou planejadas, ou o que chamou de "tentativa de dar a essas medidas um caráter de desrespeito à legislação, ou desrespeito à Constituição, o que não é absolutamente verdade".
"Nós sabemos que diversas dessas medidas são importantes, são necessárias. A sociedade brasileira espera isso, espera esse respeito justamente ao setor produtivo, à propriedade privada, a todas essas questões que durante muitos anos no Brasil foram sendo vilipendiadas."
Salles foi alvo no mês passado de operação da Polícia Federal para investigar suspeita de crimes de corrupção e facilitação de contrabando de madeira, que inclui ainda outros agentes públicos e empresários do setor.
No início deste mês, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de outro inquérito para investigar o então ministro.
Segundo uma fonte do Supremo, o ministro Alexandre de Moraes, encarregado de um dos inquéritos contra Salles, vai decidir se a investigação segue na corte ou vai para a primeira instância por ele não ter mais prerrogativa de foro.
Salles também é apontado como um dos possíveis motivos para paralisação em negociações ambientais do Brasil com os Estados Unidos, segundo a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO).
Em nota divulgada na terça-feira, a senadora afirmou que "nossos parceiros americanos e europeus estão atentos à evolução do desmatamento na estação seca, às investigações contra o ministro do Meio Ambiente e às propostas de mudança de legislação em trâmite no Congresso: licenciamento ambiental e regularização fundiária".
"Se nenhuma evolução positiva ocorrer no trato que o Brasil dá ao tema do meio ambiente, sanções poderão se tornar uma realidade em breve, talvez ainda este ano", alertou a presidente da CRE.
REAÇÃO
Para Marcio Astrini, coordenador do Observatório do Clima, a mudança no nome do ministro fará pouca diferença sobre a política ambiental.
"Quem agora sentar na cadeira de ministro será para obedecer as ordens de Bolsonaro e continuar a implementar política de destruição ambiental, assim como Salles fez", disse Astrini.
O Greenpeace seguiu na mesma linha. "A saída de Salles foi tardia, mas necessária. Entretanto, a estratégia do governo para a agenda ambiental não deve mudar."
O líder do PSDB na Câmara, deputado Rodrigo de Castro, por sua vez ressaltou que a troca do comando do ministério precisa acarretar mudanças positivas.
"Que a demissão de Ricardo Salles, aguardada já há algum tempo, represente, de fato, uma guinada nos rumos da política ambiental brasileira e que retrocessos observados nestes últimos anos sejam reparados. É preciso restaurar a imagem do Brasil lá fora nessa questão ambiental", disse Castro.