NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - O Irã está pronto para trabalhar com os Estados Unidos e seus aliados para combater os militantes Estado Islâmico, mas gostaria de ver mais flexibilidade com o programa de enriquecimento de urânio do Irã, autoridades iranianas disseram à Reuters.
Os comentários das autoridades, que pediram para não ser identificadas, destacam a dificuldade para as potências ocidentais manterem as negociações nucleares separadas de outros conflitos regionais. O Irã exerce influência na guerra civil da Síria e no governo iraquiano, que está lutando contra o avanço dos combatentes do Estado Islâmico.
O Irã enviou sinais contraditórios sobre sua vontade de cooperar na luta contra o Estado Islâmico, um grupo sunita radical que apreendeu grandes faixas de território em toda a Síria e Iraque e é responsabilizado por uma onda de violência sectária, decapitações e massacres de civis.
O líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, disse recentemente ter vetado uma proposta dos EUA ao Irã para trabalharem juntos contra o Estado Islâmico, mas autoridades norte-americanas disseram que não houve tal pedido. Oficialmente, tanto Washington quanto Teerã descartam a possibilidade de cooperar militarmente na luta contra a ameaça.
Mas, em particular, as autoridades iranianas têm manifestado vontade de trabalhar com os EUA contra o Estado Islâmico, embora não necessariamente no campo de batalha.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse na sexta-feira que o Irã tem um papel a desempenhar na derrota Estado Islâmico, indicando que a posição norte-americana também pode estar mudando.
"O Irã é um país muito influente na região e pode ajudar na luta contra os terroristas do ISIL (Estado Islâmico). Mas é uma via de mão dupla. Você dá algo e você recebe alguma coisa", disse uma autoridade iraniana.
"O ISIL é uma ameaça à segurança mundial, não o nosso programa (nuclear), que é um programa pacífico", acrescentou a autoridade.
Teerã rejeita as alegações ocidentais de que está acumulando a capacidade de produzir armas atômicas sob a cobertura de um programa civil de energia nuclear.
Outra autoridade iraniana corroborou os comentários. Ambas disseram que gostariam que os EUA e seus aliados ocidentais mostrassem flexibilidade sobre o número de centrífugas atômicas que Teerã poderia manter sob qualquer acordo de longo prazo que levante as sanções em troca de restrições no programa nuclear de Teerã.
"Ambos os lados podem mostrar flexibilidade, que vai levar a um número aceitável para todos", disse a autoridade iraniana.
Representantes ocidentais disseram à Reuters que o Irã não havia cogitado essa ideia nas negociações nucleares com os EUA, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Rússia e China, retomadas em Nova York na sexta-feira.
Diplomatas próximos às negociações dizem que é improvável que se estabeleça em Nova York um acordo de longo prazo que retire as sanções em troca de cortes no programa nuclear iraniano.
As autoridades ocidentais disseram que seria difícil até mesmo discutir a questão nas negociações e que os EUA e seus aliados estão determinados a manter o foco exclusivamente nas questões atômicas, com a data limite 24 de novembro para um acordo se aproximando.
"Estamos vendo com a aproximação do fim das negociações que os iranianos se sentem tentados a trazer outros assuntos para a mesa", disse um diplomata ocidental.
"Às vezes, eles indicam que, se não houver um acordo (nuclear), os outros processos na região seriam mais complicados", acrescentou. "Os seis estão determinados a não levar os outros assuntos para a mesa de negociações nuclear."
(Por Parisa Hafezi e Louis Charbonneau)
((Tradução Redação Rio de Janeiro, 55 21 2223 7155))
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