SÃO PAULO (Reuters) - O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu recebia cerca de 96 mil reais de propina por um contrato de terceirização na Petrobras (SA:PETR4), disse o lobista Milton Pascowitch, um dos delatores da operação Lava Jato, segundo despacho do juiz Sergio Moro que determinou a prisão de Dirceu nesta segunda-feira.
Na decisão em que deferiu o pedido feito pela Polícia Federal para prender Dirceu preventivamente, Moro cita depoimento de Pascowitch em que o lobista acusa o ex-ministro de receber propina da empresa Hope Recursos Humanos, que fornece mão de obra terceirizada para a estatal.
Entre os outros beneficiados pela propina da empresa estavam o ex-diretor de serviços da Petrobras Renato Duque, que teria sido indicado ao cargo por Dirceu, o próprio Pascowitch e o também lobista Fernando Moura.
"Seriam pagos cerca de 3 por cento dos 'valores líquidos faturados à Petrobras', o que corresponderia a cerca de 500 mil reais mensais, sendo os valores entregues a Milton Pascowitch. Dos valores, cerca de 180 mil ficariam com Fernando Moura e o restante seria dividido entre Renato Duque (40 por cento), José Dirceu (30 por cento) e Milton Pascowitch (30 por cento)", escreveu Moro em seu despacho.
Pela divisão relatada pelo delator, o montante mensal que caberia a Dirceu giraria em torno de 96 mil reais. Esses pagamentos, ainda de acordo com a delação de Pascowitch citada no despacho do juiz, teriam se iniciado em 2004 e se estendido até o final de 2013.
Dirceu, que já cumpre pena em prisão domiciliar por ter sido condenado na ação penal do mensalão, foi preso na manhã desta segunda-feira por suposto envolvimento nas irregularidades apuradas pela Lava Jato, que investiga um bilionário esquema de corrupção na Petrobras que pode ter se estendido para outras estatais, como a Eletronuclear, controlada pela Eletrobras (SA:ELET3).
A defesa do ex-ministro chegou a entrar com pedido de habeas corpus preventivo quando surgiram as primeiras informações sobre a delação premiada de Pascowitch, mas o pedido foi rejeitado pela Justiça.
Em entrevista coletiva em Brasília, o advogado Roberto Podval, que representa Dirceu, disse que a prisão preventiva do ex-ministro foi desnecessária e que Dirceu tornou-se "bode expiatório".
Duque, por sua vez, está preso acusado de envolvimento na Lava Jato e já é réu em ações penais que tratam do esquema de corrupção.
(Reportagem de Eduardo Simões; Reportagem adicional de Leonardo Goy em Brasília)