Atenas, 10 jul (EFE).- Na reta final das negociações com os credores, o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, buscou nesta sexta-feira o apoio do parlamento ao pacote de reformas proposto, em um esforço para mostrar confiabilidade para o cenário externo e coesão interna.
Ao longo da manhã, várias reuniões dos grupos parlamentares e das direções dos partidos foram se sucedendo para analisar a última folha de propostas.
Faltando apenas as discussões e a votação final, que deve acontecer apenas depois da meia-noite (horário local), o ambiente que predominava entre os partidos pró-europeus, todos menos comunistas e neonazistas, era de apoio, seguindo a linha do respaldo dado a Tsipras na segunda-feira passada para negociar, mas sujeito a um resultado que garanta a permanência na zona do euro.
A reunião que aparentemente se apresentou como a mais complicada - houve poucos vazamentos sobre seu desenvolvimento - foi, como era de se esperar, a do próprio partido de Tsipras, o Syriza, no qual, desde o princípio, havia uma corrente contrária a violar as promessas eleitorais de acabar com as políticas de austeridade.
Tsipras pediu o apoio "fechado" das fileiras de seu partido para as decisões "importantes" que o governo deverá tomar.
"Recebemos um mandato para buscar um acordo que seja melhor que o ultimato que nos foi dado pelo Eurogrupo (fórum informal que reúne os ministros de economia e finanças dos países da zona do euro), mas, claro, não nos deram um mandato para tirar a Grécia da zona do euro", disse Tsipras, citado por uma fonte do governo.
"Aqui, aonde chegamos, chegamos todos juntos. Ou continuamos juntos, ou saímos todos juntos", acrescentou.
Alguns meios da imprensa grega indicaram que, nesta reunião, três deputados proclamaram abertamente sua dissidência através de uma carta, na qual insistiram que, se não há um programa que ponha um fim à austeridade e ofereça uma remissão da dívida, é melhor sair do euro.
A carta não esclarece se os deputados tinham pensado em votar contra, algo que também não foi revelado pelo ministro de Energia, Panayotis Lafazanis, que ontem rejeitou a assinar a proposta e hoje assegurou que "não é compatível com nosso programa".
"O 'não' do povo no referendo não pode se traduzir em um 'sim' humilhante", disse Lafazanis para a imprensa ao entrar na reunião do grupo parlamentar, e, quando saiu, se recusou a dizer como votaria esta noite.
O partido de Tsipras, o Syriza, tem 149 deputados, e com seu parceiro nacionalista, os Gregos Independentes, somam 162 cadeiras, 11 acima da maioria absoluta.
A reunião dos Gregos Independentes também teve seus pormenores, até o ponto em que foi interrompida durante uma hora, porque o líder do partido, Panos Kamenos, pediu para se reunir com Tsipras para pedir ao premiê uma série de esclarecimentos.
Apesar de Tsipras contar com o apoio de boa parte da oposição para este projeto, o premiê necessita obter a maioria dentro de sua aliança para poder garantir a estabilidade do governo.
Com o voto de hoje, Tsipras obterá apenas o sinal verde para negociar as propostas enviadas aos credores, mas não para um acordo final, que deverá ser submetido à votação uma vez que for alcançado.
Um dos principais condicionantes será o governo conseguir arrancar dos credores um compromisso para tornar a dívida mais sustentável.
A Grécia solicitou formalmente na quarta-feira o terceiro resgate por um total de três anos e no volume de 53,5 bilhões de euros, recursos estes que serão destinados exclusivamente à devolução de empréstimos aos credores.
Em troca, o governo se compromete a um amplo catálogo de reformas que contém uma série de aumentos de impostos - diretos e indiretos -, aumentos das contribuições sociais, assim como uma redução das pensões.
Entre os pontos de maior destaque estão o aumento do imposto sobre o valor agregado (IVA) para os restaurantes, de 13% para 23%, o aumento das contribuições à Previdência Social, a eliminação progressiva dos subsídios às pensões mais baixas e o aumento na alíquota do imposto de renda, de 11% para 13% no tipo mínimo, e de 33% para 35%, no máximo.
Além disso, o governo contempla uma ampla reforma do sistema de pensões, com a eliminação gradual das aposentadorias antecipadas e a fusão dos fundos de pensões suplementares, que deverão ser financiados exclusivamente com as contribuições dos trabalhadores.
Por outro lado, os gastos com defesa ficam abaixo do que pediam as instituições e, em lugar de uma economia de 400 milhões de euros, oferece 300 milhões.