Por Juliana Schincariol
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A retração econômica está facilitando a compra de terrenos e incentivando uma migração de consumidores de imóveis prontos para loteamentos, disse o principal executivo da empresa de loteamentos Urbamais, controlada pela construtora e incorporadora MRV.
"Existem muitas áreas que a gente começou a negociar há um ano, um ano e meio e estavam descartadas e estão voltando a ser discutidas", disse o diretor-executivo da Urbamais, Flávio Araújo, à Reuters.
Segundo ele, os donos desses terrenos têm procurado a companhia com disposição de venda por valores menores que os cobrados alguns meses atrás.
"Com a restrição do crédito imobiliário, a gente sente que muita gente vem migrando para a compra de loteamentos", disse Araújo.
Lançada em 2012, a Urbamais foi criada com um caixa de 50 milhões de reais. A empresa é 60 por cento controlada pela MRV, com os 40 por cento restantes nas mãos de diretores da empresa.
O banco de terrenos da companhia é avaliado atualmente em 2 bilhões de reais em Valor Geral de Vendas (VGV). Para a aquisição das áreas, a empresa trabalha com permuta física ou financeira.
A companhia busca atuar em cidades onde a MRV esteja presente, em busca de ganhos de sinergia, e oferece produtos voltados para as classes B e C.
Araújo não descartou a possibilidade de novos sócios para a Urbamais, mas disse que no momento não há nada planejado.
"A gente não consumiu os 50 milhões de reais ainda, estamos com um trabalho bem espartano e dando valor ao nosso dinheiro pela dificuldade em que se encontra o mercado", disse ele, sem revelar o atual caixa da empresa.
Em geral, os projetos de loteamento têm margens superiores às das incorporadoras e construtoras. Enquanto a margem líquida é de 10 a 15 por cento em um projeto de incorporação, nas empresas de loteamentos esse percentual fica entre 20 e 30 por cento, disse Araújo, citando a média do mercado.
Além disso, a análise de crédito no segmento é mais simples do que o financiamento imobiliário pelos bancos, disse o executivo, com a garantia do contrato sendo feita por meio de alienação fiduciária.
Porém, a velocidade de vendas tem sido retardada pela retração da economia, assim como em outros setores da construção civil, afirmou.
Ele citou como exemplo o caso do lançamento de uma fase de loteamento em Campos dos Goytacazes (RJ) durante o segundo trimestre. O empreendimento foi 52 por cento comercializado no primeiro mês, mas alguns anos antes, no auge do "boom" do mercado imobiliário, o mesmo resultado seria obtido em apenas uma semana, comparou Araújo.
PROJETOS
Com três lançamentos previstos para 2015, a Urbamais trabalha atualmente em 14 projetos, e busca outros seis até o fim do ano. O patamar atual de empreendimentos lançados, no entanto, ainda não é satisfatório.
"Três projetos por ano não é o número que a gente quer. A gente vai nesta linha de conseguir três, quatro projetos por causa do ciclo de aprovação, que é demorado", disse Araújo.
"Dentro de uns dois anos, a gente vai ter um ciclo melhor de lançamentos, com muita coisa sendo aprovada. Ano que vem tenho previsão de aprovar algo em torno de quatro projetos, mas eu gostaria de aprovar mais", acrescentou.
Para 2015, a Urbamais deve colocar à venda uma fase de um novo projeto em Feira de Santana (BA) até o fim do ano, depois de ter lançado mais cedo fases de projetos em Araraquara (SP), além de Campos do Goytacazes.
Na semana passada, a MRV divulgou pela primeira vez em seu balanço operacional os dados relativos à Urbamais. As vendas contratadas foram de 38,7 milhões de reais no segundo trimestre, ante 2,3 milhões de reais nos três primeiros meses do ano, impulsionadas pelo lançamento da primeira fase do empreendimento de Campos de Goytacazes.