Por Flavia Bohone
SÃO PAULO (Reuters) - O setor exportador está pouco otimista com as medidas que devem ser anunciadas na próxima semana pelo governo para impulsionar a competividade dos produtos brasileiros no exterior, e aponta que somente o aumento do financiamento pode ajudar as vendas externas no curto prazo.
Mas com as restrições orçamentárias devido ao ajuste fiscal, a expectativa é que o governo não anuncie um volume significativo de financiamento, disseram representantes dos exportadores.
"Neste momento, com a taxa de câmbio favorável, seria muito frustrante se não pudéssemos aproveitar por falta de financiamento", disse o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
As exportações brasileiras caíram 16 por cento de janeiro a maio deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, mesmo com o dólar em alta de quase 20 por cento ante o real nos cinco primeiros meses do ano.
Mesmo esperando algum alívio no financiamento, o setor não acredita que seja anunciada alguma medida de impacto duradouro que possa ajudar o setor a se consolidar no longo prazo.
"Não deve ter nenhuma medida que mude a pauta de exportações no longo prazo. O que mudaria mesmo é o custo da logística e isso demora", disse Castro.
Segundo o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, o Plano de Exportações, que será anunciado na próximo semana terá instrumentos de financiamento, de seguro e de garantias fortalecidos.
Para presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (Abracex), Roberto Segatto, sem um forte incentivo à revitalização da indústria, os produtos brasileiros continuarão com baixa competitividade frente a outros países.
"Para aumentar as exportações, seriam necessárias três medidas urgentemente. A primeira é a revisão da carga tributária; a segunda é a questão da infraestrutura; e a terceira é a remodelação do parque industrial", disse Segatto.
"Como a indústria vai retomar as exportações se não tem máquinas adequadas?", disse.
O setor exportador defende que sejam tomadas medidas para favorecer o aumento das exportações de manufaturados, que são produtos menos dependentes de oscilações de preços.
"As commodities são ótimas quando estão em alta, porque não temos qualquer controle sobre os preços", disse Castro, da AEB.
As exportações de produtos manufaturados caíram 13,7 por cento em 2014 ante 2013, enquanto as exportações totais recuaram 7 por cento na mesmo comparação. Da mesma forma, a participação dos manufaturados na pauta de exportação brasileira também tem recuado e chegou a 35,6 por cento em 2014 ante 55 por cento em 2005.
SISTEMA TRIBUTÁRIO
Para o estrategista para América Latina do Barclays (LONDON:BARC), Bruno Rovai, o sistema tributário é um dos maiores pesos aos exportadores brasileiros, mas ele também não vê a possibilidade de uma reforma no curto prazo.
"Está claro que não tem clima político para colocar (uma proposta de reforma tributária) no Congresso e passar", disse Rovai.