Por Marcela Ayres
BRASÍLIA,16 Abr (Reuters) – A presidente Dilma Rousseff cancelou neste sábado a participação em evento de movimentos populares contra o impeachment para se dedicar inteiramente a conversas com deputados no Palácio da Alvorada, num esforço para engrossar a lista dos que votarão contra a admissibilidade do processo de impedimento no domingo.
Segundo uma fonte parlamentar, a decisão foi tomada por orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que considera que a militância já está ao lado da presidente e que, por isso, o empenho de energia de Dilma na véspera da votação na Câmara dos Deputados deve ser direcionado ao convencimento de parlamentares.
Ao mesmo tempo em que Dilma buscava capitanear um recrudescimento de ânimos para barrar o impeachment, o vice-presidente Michel Temer voltou a Brasília de São Paulo, de onde tinha dito que acompanharia a votação na Câmara.
A volta de Temer à capital federal dá pistas de que, do lado dos apoiadores do afastamento da presidente, um resultado favorável ao impeachment na Câmara ainda não é tido como certo.
O evento em Brasília contra o impeachment teve participação do ex-presidente Lula e presença do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da União Nacional dos Estudantes (UNE), entre outros movimentos.
Eram ouvidos gritos de ordem e músicas, e muitos dos presentes seguravam cópias da capa da Constituição e sacudiam bandeiras do MST.
Falando ao público com a voz bastante rouca, Lula disse que sua participação seria breve, pois deveria voltar para o fronte de negociações em busca de barrar o impeachment.
"Eu tenho que voltar para conversar com governadores que podem nos ajudar", afirmou.
"É uma guerra de sobe e desce, parece a bolsa de valores, tem hora que o cara está com a gente, tem hora que não está mais", acrescentou ele, em referência à quantidade de votos necessária para a admissibilidade do pedido de impeacahment na Câmara.
O ex-presidente criticou Temer durante seu discurso, vinculando-o a uma tentativa de golpe pelo poder.
Também defendeu Dilma e disse aos manifestantes para darem o exemplo no domingo e não caírem em provocações.
"Está cheio de televisão para dizer mais uma vez 'este movimento popular, o movimento social, a CUT, as centrais sindicais, são baderneiros'. Nós temos que dizer o que nós somos é trabalhadores e trabalhadoras. Baderneiro é quem quer derrubar a presidente Dilma através de um golpe no Congresso Nacional", afirmou Lula.
Em carta lida pela secretária de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, Dilma destacou a "necessidade de dialogar o dia inteiro com parlamentares que se mostram cada vez mais sensíveis a derrotar o impeachment".
A presidente disse ter confiança na vitória contra o impedimento no domingo, e afirmou que a democracia é "o lado certo nessa história".
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu)