BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff classificou de “ridícula” as acusações que embasam o seu pedido de impeachment e afirmou que sua luta é para garantir “direitos sociais históricos”, durante cerimônia no Palácio do Planalto em que renovou a duração do programa Mais Médicos.
“Tenho clareza que é ridícula a acusação. Porque o que fizemos foi garantir programas sociais, garantir programas como o Plano Safra para a agricultura e garantir o programa de sustentação de investimento para a indústria”, afirmou.
“Há de fato um processo que está em curso e esse processo tem nome: o nome é golpe."
A cerimônia em que assinou a medida provisória em que estende a duração do programa Mais Médicos, incluindo a manutenção do convênio com o governo de Cuba para manter no Brasil profissionais daquele país, marcou o início da ofensiva da presidente, no que devem ser seus últimos 15 dias antes de seu afastamento pelo Senado, para mostrar as ações do governo.
Com a grande possibilidade de ter de deixar o Planalto, Dilma quer apresentar tudo o que for possível e deixar o mínimo para o vice-presidente Michel Temer, que assumirá caso o Senado aprove o afastamento da presidente.
A cerimônia no Palácio do Planalto se tornou mais um ato contra o impeachment, mas em um tom muito abaixo das manifestações de apoio acontecidas antes da admissibilidade do impedimento na Câmara, há duas semanas.
Cerca de 500 pessoas ligadas à área da saúde assistiram à cerimônia e gritos esporádicos de “não vai ter golpe” e “Dilma, guerreira do povo brasileiro” surgiam, assim como de “Fora Cunha” e “Tira o Temer” mas com menos entusiasmo do que há algumas semanas.
Dilma defendeu o programa, muito criticado no seu lançamento, há quase três anos, e lembrou que existem hoje mais de 18 mil médicos atuando no país pagos pelo governo federal. Desses, mais de 70 por cento são estrangeiros, a maioria cubanos, dentro do convênio entre os dois países.
“Ampliamos sim os gastos em saúde e ainda é necessário fazer mais. Qualquer um que propõe fazer ajuste fiscal diminuindo a despesa com saúde da população está propondo um grande retrocesso”, afirmou.
“Muito pior se ousar acabar com a vinculação obrigatória e constitucional na área da saúde. Além de rasgar nossa lei maior, fere direitos básicos do povo brasileiro.”
Entre as propostas que estão sendo estudadas pela equipe de Temer, em um provável governo a partir do afastamento da presidente, está o fim da vinculação de recursos do Orçamento para Saúde e Educação.
Lançado na metade de 2013, o Mais Médicos foi a principal marca social do governo Dilma para a campanha de reeleição, em 2014.
Inicialmente criticado pelas associações médicas e pela oposição --especialmente pela decisão do governo de fazer convênio com Cuba e importar médicos para preencher as vagas não aceitas por brasileiros-- o Mais Médicos ganhou a aprovação da população e, principalmente, dos prefeitos.
Com dificuldades de contratar médicos, as prefeituras passaram a contar com profissionais entrando apenas com custo de alimentação, transporte e hospedagem.
“Para os prefeitos e prefeitas, representou a possibilidade de garantir o atendimento básico em saúde, especialmente nos locais mais afastados e nas periferias das grandes cidades. Foi a salvação dos prefeitos e prefeitas. Tenho dito que foi o Bolsa Família da saúde”, disse o presidente da Associação Brasileira de Municípios, Eduardo Pereira.
Presidente da Frente Nacional de Prefeitos, Márcio Lacerda (PSB), de Belo Horizonte, agradeceu a decisão do governo de estender a permanência dos médicos estrangeiros no Brasil, “especialmente os cubanos, a quem saudamos e agradecemos”.
Na tarde desta sexta-feira, Dilma terá outro ato, desta vez, com assinatura de atos na primeira reunião do Conselho Nacional de Política Indigenista. Entre eles, a homologação de novas terras indígenas.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu) 2016-04-29T164551Z_1_LYNXNPEC3S14W_RTROPTP_1_POLITICA-DILMA-MAISMEDICOS.JPG