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Disputas internas do PMDB vêm à tona dois dias após decisão de romper com governo

Publicado 31.03.2016, 19:03
© Reuters. Vice-presidente Michel Temer (C) deixa a casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (D), enquanto é observado pelo senador, Eunício Oliveira (E)

Por Lisandra Paraguassu e Leonardo Goy

BRASÍLIA (Reuters) - Menos de dois dias após a decisão do PMDB de desembarcar do governo da presidente Dilma Rousseff, as disputas internas do partido começaram a vir à tona nesta quinta-feira, especialmente no momento em que peemedebistas começam a perder seus cargos no segundo e terceiro escalões do governo e ministros do partido brigam para permanecer em seus postos.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), classificou, em entrevista, de “pouco inteligente” e precipitada a decisão do partido de sair do governo neste momento. “Evidente que isso precipitou reações em todas as órbitas. No PMDB, no governo, nos partidos da sustentação, nos partidos da oposição. O que significa dizer em bom português que não foi um bom movimento, um movimento inteligente”, disse o senador.

A aceleração do processo de desembarque irritou o PMDB do Senado. Durante a convenção do partido, em 12 de março, foi tomada a decisão de apreciar as moções pelo rompimento em um encontro do diretório nacional da legenda em 30 dias.

Renan, outros senadores peemedebistas e os ministros tentaram convencer o vice-presidente Michel Temer --também presidente do partido-- de marcar a reunião para 12 de abril. Temer, no entanto, escudado em um grupo de 30 deputados que pressionavam a Executiva, manteve a reunião para a última terça-feira.

Nenhum dos ministros, a maior parte dos senadores e alguns deputados nem mesmo participaram do encontro que selou o rompimento e durou apenas três minutos. Uma fonte de alto escalão no partido havia assegurado à Reuters que já havia votos suficientes para aprovar o desembarque. A decisão de fazê-lo por aclamação teria sido para evitar desgastes.

Fontes ligadas ao alguns dos ministros do partido, no entanto, avaliaram que a rapidez no processo foi para esconder que o PMDB continua dividido.

Segundo um importante parlamentar peemedebista, que falou sob a condição de anonimato, a maneira como foi tomada a decisão do rompimento, “mais até do que seu mérito”, causou desconforto para algumas pessoas dentro do partido.

“Não houve uma discussão ampla. A decisão foi tomada por algumas pessoas da cúpula do partido e anunciada naquela rápida reunião na terça-feira”, disse.Segundo essa fonte, mesmo entre aqueles que defendem o desembarque do governo Dilma, houve quem questionasse a maneira como o processo foi conduzido no partido.

Renan defende que o PMDB mostrou uma “unidade férrea” em concordar com a chapa única que reelegeu Michel Temer presidente e que pode “construir uma unidade na adversidade”.

De acordo com uma fonte do governo, o Palácio do Planalto aproveita esse momento ainda de disputa interna no PMDB para tentar conseguir assegurar alguns votos no partido – conversa que está a cargo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E também usa os cargos que o partido perdeu para tentar obter no varejo apoios necessários para evitar o impeachment.

Nesta quinta-feira, a presidente iniciou o processo de demissão de centenas de peemedebistas que ocupam cargos de segundo e terceiro escalões no governo. Entre eles, o diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Rogério Luiz Abdalla, que foi indicado pela bancada do PMDB no Senado, mas teria também ligações com Temer, e Walter Gomes de Sousa o diretor-geral do Departamento de Obras contra a Seca (Dnocs), indicado pelo ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves.

Houve ainda demissões de postos nas superintendências regionais de alguns ministérios, como a Agricultura, que eram ocupados por peemedebistas.

Em mais uma sinalização das divisões internas no PMDB após a decisão de romper com o governo, a ministra da Agricultura, a peemedebista Kátia Abreu, usou o site da pasta para anunciar que recebeu convite do PR para trocar de partido.

© Reuters. Vice-presidente Michel Temer (C) deixa a casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (D), enquanto é observado pelo senador, Eunício Oliveira (E)

A ministra é próxima de Dilma e, na quarta-feira, usou sua conta no Twitter para afirmar que seguiria no governo e no PMDB. O PR é um dos partidos que o governo busca atrair com mais espaço dentro da Esplanada dos Ministérios na busca por votos para barrar o pedido de impeachment da presidente na Câmara dos Deputados.

(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)

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