Por Lisandra Paraguassu e Leonardo Goy
BRASÍLIA (Reuters) - As investigações da operação Lava Jato, comandadas pelo juiz Sérgio Moro na primeira instância, estão sendo conduzidas por uma “visão midiática e uma tentativa de criar um clima de constrangimento no país”, disse nesta quarta-feira o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini.
O ministro afirmou, em entrevista à Reuters e a um jornal brasileiro, que há uma tentativa de se fazer um “impeachment cautelar” para evitar a candidatura do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva em 2018.
Depois de dizer que “algumas coisas no Brasil estão sendo tratadas de maneira muito precipitada”, Berzoini foi questionado se essa era uma crítica direta ao juiz Moro.
“Claro que é uma crítica. Eu acho que a lógica desse processo (operação Lava Jato) está comandada por uma visão midiática e uma tentativa de criar um clima de constrangimento no país”, disse o ministro.
Esta é a primeira vez que uma autoridade de alto escalão do governo faz críticas diretas à condução da Lava Jato por Sérgio Moro. Dentro do Palácio do Planalto, a ordem da presidente Dilma Rousseff é de que não se questionem os atos do juiz para que não pareça uma tentativa do governo de interferir de alguma maneira no processo, disse à Reuters uma fonte palaciana.
Berzoini confirma que o Planalto não fará nada contra o que considera “situações esdrúxulas” na Lava Jato.
“O governo procura, como Poder Executivo, evitar que sua ação seja encarada como uma intromissão em outros poderes. Mas evidentemente eu, como cidadão, tenho direito de ter opinião e me manifesto de maneira muito tranquila”, disse.
“O combate à corrupção tem que ser um objetivo nacional permanente. Em nome de nenhum objetivo nacional permanente se pode ignorar os pressupostos do Estado Democrático de Direito.”
Questionado então sobre por que nenhuma das decisões de Moro têm sido revertidas em instâncias superiores, o ministro respondeu: “É uma boa pergunta.”
"SITUAÇÕES ESDRÚXULAS"
Berzoini disse ainda que o Estado de Direito não “pode ser colocado em posição de fragilidade por uma visão de que tudo é válido se objetivo é nobre” e que “situações esdrúxulas” estão se vendo no processo de investigação.
O ministro afirmou que há uma determinação em focar em algumas pessoas e no PT e que há uma campanha nacional contra Lula, em uma tentativa de evitar sua candidatura em 2018 para a sucessão de Dilma.
“Não tenho dúvida de que há uma campanha nacional contra ele comandado por alguns órgãos de mídia. É impressionante a desproporção do alarde entre os temas referentes a Lula e os temas referentes a FHC (o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso)”, disse. “Querem fazer um impeachment cautelar, querem impedir sua candidatura.”
O ministro classificou de “esquisita” a prisão do publicitário do PT João Santana, ocorrida na terça-feira, e garantiu que não há nenhuma ilegalidade na campanha da presidente. “Mutias coisas estão sendo tratadas de maneira precipitada”, afirmou, referindo-se à prisão de Santana.
“Isso não tem nenhuma relação com a campanha da presidente. A campanha está estritamente dentro da lei.”
A intenção da oposição de usar a prisão do publicitário para reacender o debate sobre o impeachment da presidente é encarada pelo ministro como mais um capítulo na disputa política.
“Eu acho que a oposição demonstra que continua com samba de uma nota só. A única preocupação que eles têm é com impeachment. Não têm proposta para economia, para educação, para saúde, para questões estratégicas. Mas adoram falar de impeachment”, disse.