Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Dezenas de milhares de manifestantes contrários ao impeachment da presidente Dilma Rousseff protestaram nesta quinta-feira em diversas cidades do país em favor da democracia e contra o que afirmam ser um golpe para derrubar o governo.
O protesto principal, convocado pela Frente Brasil Popular e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), ocorria em Brasília, onde os organizadores esperavam um público de 100 mil pessoas, para uma marcha do estádio Mané Garrincha até o Congresso Nacional. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, 40 mil pessoas participavam da manifestação.
No Rio de Janeiro, ao menos 50 mil se manifestavam no centro da cidade a favor de Dilma e contra o impeachment, de acordo com os organizadores, a maioria usando camisas vermelhas e levando faixas com mensagens de apoio à presidente e ao PT. A Polícia Militar disse que, assim como em outros protestos, não divulgaria estimativa de público.
Os manifestantes gritavam palavras de ordem, principalmente "não vai ter golpe", estimulados por pessoas que discursaram em um palco montado no Largo da Carioca, entre elas o cantor e compositor Chico Buarque. Também foram ouvidos gritos e cartazes contra o vice-presidente Michel Temer, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o juiz federal Sérgio Moro, que concentra em primeira instância os processos da operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras (SA:PETR4).
"Não podemos perder conquistas obtidas no país nos últimos 12 anos, com um governo de inclusão como o do PT", disse o bancário Antônio Santos. "Levamos muitos anos lutando pela democracia e não podemos voltar no tempo com um golpe como esse articulado pela direita."
Também houve manifestações em São Paulo, Porto Alegre, São Luís, Fortaleza, Recife, Maceio e Aracaju, entre outras cidades, segundo os organizadores. Não houve registro de violência até o momento nas manifestações.
Na capital paulista, milhares de pessoas ocupavam a Praça da Sé, no centro da cidade, levando balões de centrais sindicais e faixas de movimentos sociais e entoando palavras de ordem contra o impedimento da presidente.
Os organizadores afirmaram que ao menos 50 mil pessoas participaram do ato, enquanto a Polícia Militar de São Paulo afirmou que no momento do pico a manifestação reuniu 18 mil pessoas. De acordo com o Datafolha, o protesto na capital paulista reuniu 40 mil pessoas.
Em sua conta no Facebook, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou um vídeo em apoio às manifestações desta quinta e classificou mais uma vez o pedido de impeachment contra Dilma como um golpe contra a democracia.
"O povo brasileiro está mostrando o quanto valoriza a democracia e se manifesta em defesa da Constituição, do estado de direito e das conquistas sociais", disse Lula.
"O Brasil sabe que não existe solução fora da democracia, que não se conserta um país andando para trás, que não há poder legítimo se a fonte não for o voto popular. Por isso eu quero saudar esse movimento extraordinário, que cresce a cada dia e está tomando conta do nosso Brasil."
Os protestos a favor de Dilma e contra o impeachment acontecem enquanto tramita no Congresso um processo de impedimento que acirrou ainda mais a tensão política, em meio à forte recessão econômica e baixa popularidade da presidente, além das investigações da operação Lava Jato contra a corrupção.
O atual quadro levou milhões de pessoas a protestarem em várias cidades do país contra o governo no último dia 13, no que foi considerada a maior manifestação popular já registrada no Brasil. As manifestações favoráveis ao governo no dia 18 reuniram centenas de milhares em todo o país.
A presidente, que nega ter cometido crime de responsabilidade que justifique um impeachment, adotou como estratégia de defesa chamar o processo de impedimento em curso no Congresso de golpe, e voltou a repetir o discurso em evento mais cedo nesta quinta-feira no Palácio do Planalto.
“Para cada momento histórico o golpe assume uma cara. Nos processos que a América Latina passou nos anos 1960, 1970 e 1980, a forma tradicional era a intervenção militar", disse a presidente, que foi presa e torturada durante o regime militar. Esta quinta-feira marca o 52º aniversário do golpe que deu início à ditadura militar no país.
"Agora a forma está sendo a ocultação do golpe através de processos aparentemente democráticos. Se usa um pedaço da democracia. Estão tentando dar um colorido democrático a um golpe porque não tem base legal”, afirmou Dilma. [nL2N1731B0]
(Com reportagem adiconal de Rodrigo Viga Gaier, no Rio, Eduardo Simões, em São Paulo, e Lisandra Paraguassu, em Brasília)