Por Lisandra Paraguassu e Leonardo Goy
BRASÍLIA (Reuters) - Os seis ministros peemedebistas estiveram na tarde desta quarta-feira com a presidente Dilma Rousseff e a informaram que continuam na base e querem se manter nos cargos, apesar da decisão do partido de abandonar o governo, mas sua permanência nos ministérios ainda é incerta, informaram duas fontes palacianas.
No encontro, os ministros –Kátia Abreu (Agricultura), Hélder Barbalho (Portos), Marcelo Castro (Saúde), Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), Eduardo Braga (Minas e Energia) e Mauro Lopes (Aviação Civil)– disseram à presidente que estavam colocando seus cargos à disposição, caso ela necessitasse realocar forças na recomposição do governo.
De acordo com uma fonte próxima a um dos ministros, apesar desse movimento, os peemedebistas esperam de Dilma um sinal de que são “desejados”, mas não ouviram promessas. O tom do encontro teria sido amigável. “Não dá para afirmar nada nesse momento”, disse uma das fontes do Planalto.
A questão para o Planalto é se, apesar da ação solidária dos ministros, o governo terá espaço para mantê-los. “O fato é que o PMDB saiu do governo. Os ministros não têm votos, quem os têm é quem os indicou. Tem que ver se esses continuam com o governo”, disse a outra fonte do Planalto.
Dos seis ministros, apenas Hélder Barbalho teria influência na sua base, mais pelo poder de seu pai, o senador Jáder Barbalho (PA), que se declarou contra a saída do PMDB da base do governo. A conta do Planalto é que o governo poderia ter hoje entre 20 e 25 votos peemedebistas na Câmara. “Mas você mantém seis ministros em troca de 25 votos só?”, questionou a fonte.
Pansera e Marcelo Castro foram indicados pelo líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Embora fiel ao Planalto, o deputado viu o PMDB fluminense, liderado por seu pai, Jorge Picciani, abandonar o governo e afirmou que daqui para frente “votará com sua consciência”. Mauro Lopes foi apontado para o ministério pelo PMDB mineiro –que já rompeu com o governo.
No entanto, segundo um importante peemedebista, os ministros –especialmente os senadores– mantêm influência na Câmara para conquistar votos contra o impeachment.
“Conseguir os votos para barrar o impeachment não é impossível. Mesmo com a saída do PMDB, o governo tem ferramentas para buscar essas votos. A questão é como vai governar depois disso. Provavelmente, não terá votos sequer para aprovar medidas provisórias ou indicações de autoridades”, disse o peemedebista.
"DESMORALIZAÇÃO"
Para o governo, a decisão dos ministros mostra que o partido continua sim dividido, como sempre foi, mesmo que hoje haja uma maioria mais barulhenta contra o governo.
A cobrança para que os ministros saiam seria porque são a face mais visível, avalia a fonte do PMDB. Mas o partido tem mais de 600 cargos no governo federal, a maioria de segundo e terceiro escalões, e não há movimentos desses para que deixem os postos.
A fonte peemedebista avalia ainda que uma eventual permanência dos seis ministros nos cargos, sem se desfiliarem do PMDB, representaria uma “desmoralização” da decisão de terça-feira da legenda de desembarcar do governo e tornaria difícil prever as consequências dentro do partido.
De acordo com essa fonte, há um setor minoritário do PMDB que ainda é governista, mas é difícil calcular quantos votos contra o impeachment pode haver dentro do partido.
“Além disso, tudo está mudando rápido, a conjuntura pode mudar até a votação sobre o impedimento.”
(Com reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)