LA PAZ (Reuters) - O presidente da Bolívia, Evo Morales, pediu aos bolivianos nesta segunda-feira que esperem "calmamente" pelo resultado oficial do referendo de domingo passado, no qual pediu a chance de se candidatar à reeleição, enfatizando que o desfecho ainda é incerto, apesar das indicações de que saiu derrotado.
Morales, que se tornou o primeiro presidente indígena da Bolívia em 2006 e cumpre seu terceiro mandato, perguntou se a Constituição deveria ser alterada para que ele possa concorrer na eleição de 2019 e potencialmente permanecer no poder até 2025.
Resultados preliminares da votação de domingo indicaram que ele está a caminho de um fiasco.
Até a tarde desta segunda-feira, com cerca de 40 por cento das urnas apuradas, o 'não' liderava sobre o 'sim' – 59 a 41 por cento, de acordo com a comissão eleitoral. O comparecimento foi alto e ficou em torno de 87 por cento, disse o organismo.
Pesquisas de boca de urna mostraram um resultado bem mais apertado, embora ainda com vantagem para o 'não'. O voto pró-Morales deve crescer à medida que os votos das áreas rurais e do exterior forem sendo apurados, mas Luis Garay, responsável local do instituto de pesquisas Ipsos, afirmou que, mesmo contando com a margem de erro, um triunfo do 'sim' é praticamente impossível.
Mesmo assim, Morales disse ser cedo demais para se conhecer o desenlace.
"Estou pedindo a todos os movimentos sociais, tanto do 'sim' quanto do 'não', para que esperem calma e responsavelmente pelo resultado final da comissão eleitoral", declarou Morales em um discurso transmitido em rede nacional nesta segunda-feira.
A rejeição seria mais um golpe para o outrora dominante bloco esquerdista da América do Sul, que está perdendo ímpeto diante da revolta dos eleitores com favorecimentos pessoais e da queda nos preços das commodities, que limitam os gastos governamentais.
Os partidários de Morales dizem que ele trouxe estabilidade e investiu em programas sociais em um dos países mais pobres da região, e por isso deve ter oportunidade de continuar.
O presidente prometeu respeitar qualquer que seja o desfecho da votação, mas isso não significa que seu partido, o Movimento Ao Socialismo (MAS), irá desistir de seu desejo de emendar a carta magna do país, opinou Michael Shifter, chefe do centro de pesquisas Inter-American Dialogue, de Washington.
"Mesmo que eles não tentem fazer outro referendo para mudar a Constituição, e Evo concorde em sair quieto no final de seu mandato, o MAS certamente não sairá quieto... é coisa certa que eles fariam qualquer coisa que pudessem para instalar um sucessor a seu gosto", disse.
Ex-plantador de coca, Morales disse que, caso perca o referendo, irá se retirar para sua fazenda após o final de seu atual mandato, mas jamais desistir da "luta".
(Por Daniel Ramos e Monica Machicao)