SÃO PAULO (Reuters) - O juiz da 13ª Vara Federal do Paraná, Sérgio Moro, responsável pelos processos da operação Lava Jato, disse nesta quarta-feira que as conversas telefônicas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, interceptadas com autorização da Justiça, indicam tentativa de influenciar autoridades para favorecer Lula.
Em decisão que tira o sigilo das interceptações telefônicas de Lula, Moro também justifica o fim do segredo das gravações argumentando que, em uma democracia, os cidadãos devem saber o que fazem os governantes.
"A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras", escreveu o magistrado.
"Em alguns diálogos, fala-se, aparentemente, em tentar influenciar ou obter auxílio de autoridades do Ministério Público ou da magistratura em favor do ex-presidente", continuou Moro.
A divulgação de uma das conversas de Lula, em que a presidente Dilma Rousseff lhe informa que enviará um emissário com o termo de posse dele como ministro da Casa Civil para que use "em caso de necessidade", agravou ainda mais a já frágil situação do governo.
Com a ida de Lula para a Casa Civil, o ex-presidente fica fora do alcance de Moro e dos procuradores do Paraná que atuam na Lava Jato, e passa a ter foro privilegiado junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Dilma já é alvo de um pedido de abertura de processo de impeachment que tramita na Câmara dos Deputados e, em meio a pior recessão das últimas décadas e à sua baixa popularidade, também viu milhões de pessoas irem às ruas no último domingo pedindo seu impedimento ou sua renúncia.
Novas manifestações pedindo que a presidente renuncie voltaram a acontecer em várias cidades do Brasil nesta quarta-feira após a nomeação de Lula para a Casa Civil e a divulgação da conversa telefônica do ex-presidente com Dilma.
(Por Eduardo Simões)