RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente do PT, Rui Falcão, cobrou uma reação do governo ao pedido de prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva feito pelo Ministério Público de São Paulo em uma conversa por telefone com o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, de acordo com um grampo do telefonema divulgado pela TV Globo nesta sexta-feira.
De acordo com o portal de notícias G1, da TV Globo, a gravação telefônica foi feita pelos investigadores da operação Lava Jato em 10 de março, dia em que foi divulgado o pedido de prisão do MP contra Lula em um caso envolvendo um tríplex no Guarujá, no qual o ex-presidente é acusado de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
"Alerta a presidente. Toma uma decisão de Estado-Maior aí", disse Falcão a Wagner no telefonema, após aparentemente informar ao então ministro da Casa Civil sobre o pedido de prisão de Lula, que é alvo das investigações da Lava Jato.
"Acho que tem que vir alguém para cá para se mexer aqui também", afirmou. "Alguma iniciativa vocês precisam tomar, porque está nas mãos de uma juíza da 4ª Vara, que não sabe quando toma a decisão, mas pode tomar a decisão hoje."
Em resposta ao pedido de Falcão, Wagner afirmou: "Tá bom, deixa eu fazer alguma coisa aqui."
A juíza da 4ª Vara Criminal de São Paulo Maria Priscilla Oliveira, responsável por analisar a denúncia contra Lula, acabou encaminhando o caso ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato, que não tomou decisão a respeito.
Na conversa grampeada por investigadores, o presidente do PT também pergunta a Wagner o que aconteceria caso Lula fosse nomeado ministro, ao que o então ministro da Casa Civil respondeu dizendo não saber.
Lula foi empossado como novo ministro da Casa Civil, substituindo Wagner, na quinta-feira, mas a posse foi suspensa por decisões liminares em meio a uma batalha jurídica. Wagner atualmente é ministro do Gabinete Pessoal da Presidência.
A posse de Lula ocorreu em meio ao acirramento do já tenso clima político, após a divulgação na quarta-feira de um outra conversa telefônica grampeada no âmbito da Lava Jato, em que Dilma afirma ao ex-presidente que estava enviando um emissário para lhe entregar o termo de posse de ministro para ser usado "em caso de necessidade".
O diálogo levou à interpretação de que Dilma estaria entregando o documento a Lula para que ele se protegesse de uma eventual ação da operação Lava Jato, já que sua entrada no ministério lhe dá foro privilegiado junto ao Supremo. A presidente negou essa versão e chamou de "agressão à democracia" a divulgação do telefonema, que foi autorizada por Moro.
(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)