Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Em reunião com presidente Michel Temer, nesta terça-feira, líderes da base aliada no Senado avisaram o governo que a atual proposta de reforma previdenciária, da forma como está hoje, não tem condições de ser aprovada e precisa ser simplificada, disseram à Reuters fontes que acompanharam o encontro.
A conversa com os senadores repetiu o padrão da reunião com os líderes da Câmara, na noite anterior. Na Câmara, onde a proposta tem que ser aprovada antes de ir para o Senado, os líderes também disseram ao presidente que não há como a reforma ser aprovada dessa forma.
O governo já aceitou a ideia de tentar votar apenas uma versão desidratada da proposta, concentrando-se na idade mínima, regra de transição e equiparação das regras dos servidores públicos com o regime geral da Previdência, mas internamente admite que não tem votos hoje nem mesmo para isso. Líderes nas duas Casas acreditam que um investimento nessa reforma menor, que teria um consenso, seria mais palatável.
"Os senadores deixaram claro ao presidente que da forma que está não tem como votar", disse uma fonte presente à reunião. O cronograma calculado pelos senadores é que, na melhor das hipóteses, uma reforma enxuta chegaria ao Senado em fevereiro do próximo ano e teria que ser votada em março e abril.
Um texto complexo como o que foi aprovado pela Comissão Especial não apenas não conseguiria ser aprovado pela Câmara como não teria como ser votado no Senado antes do período eleitoral, a partir de julho.
Líder do PSDB, o senador Paulo Bauer (SC) chegou a propor que o governo enviasse um novo projeto apenas com os pontos considerados centrais. Bauer afirmou, segundo uma fonte, que o PSDB, apesar das divergências políticas com o governo, está comprometido com a reforma e irá ajudar a aprovar as mudanças previdenciárias, mas concordou que não há como votar todo o texto agora.
"A conversa com os senadores foi apenas uma discussão inicial. O Senado vem depois, primeiro temos que resolver a Câmara", disse a fonte.
Na reunião com os líderes da Câmara, Temer ouviu também a preocupação das bancadas em aprovar uma reforma impopular às vésperas de um ano eleitoral. Mesmo os mais otimistas entre os líderes disseram ao presidente que seria necessário ouvir as bancadas e contar votos para ver qual a real condição de votar até o final do ano, como governo gostaria.
Temer também se reuniu nesta terça-feira com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para tratar do cronograma e assegurar o empenho do governo em votar a reforma.
Em sua fala inicial aos senadores, distribuída em áudio pelo Palácio do Planalto, Temer falou rapidamente na reforma da Previdência, dizendo apenas que "precisamos muito de prosseguir nas reformas". Ao longo da conversa, no entanto, reforçou a necessidade de aprovar pelo menos mudanças parciais.
Já o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), depois de elogiar a "coragem" do presidente em insistir nas reformas, defendeu novamente um texto mínimo.
"Se a gente tiver a coragem de fazer a reforma mínima, idade mínima e retirada de privilégios... se a gente tivesse feito isso lá atrás teria avançado muito mais", disse Eunício.
CRÍTICA A PROCURADORES
O presidente do Senado aproveitou a fala para criticar, mesmo sem citar diretamente, os procuradores da República, a quem acusou de receber mais de 100 mil reais por mês pelas atuações em forças-tarefas.
"O país não aguenta mais que um cidadão brasileiro, seja do Poder Legislativo, seja do Poder Judiciário, do Executivo, cidadãos brasileiros que estejam hoje convocados para determinadas tarefas, ou forças-tarefas, ganhem 150, 160, 170 mil reais por mês de extraordinário por dois, três, quatro anos em nome da moralidade pública", atacou, afirmando ainda que existam outros "que se acham Poderes".